sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Diário do Alentejo Edição 1693

Editorial
Comissário
Paulo Barriga

Carlos Moedas foi mostrar
o que valia como pessoa,
como técnico, como político,
como europeísta, aos indagadores
do Parlamento Europeu. Foi e de
lá veio como uma ovação de regalar
o olho. Não precisei de lá estar
para perceber a abada que Moedas
deve ter dado àquela malta. Uma
abada por certo igual às que dava
à nossa malta, quando estudávamos
no Liceu de Beja. Na turma
de Artes Visuais. Precisamente a
única cadeira, a par da desastrosa
Educação Física, onde qualquer um
lhe conseguia pedir meças. Quanto
ao resto, abadas. Abadas a torto e a
direito. Carlos Moedas é um estudioso.
Daqueles seres atentos e cultos
que sabe dar uso, uso verdadeiro,
ao estudo e à aprendizagem.
Dizer que Moedas é apenas um bom
aluno, como agora o demonstrou no
Parlamento Europeu, é tão redutor
como dizer que Amália era somente
uma grande fadista. Não, não é verdade.
Moedas é das poucas pessoas
que conheci que, sendo bom aluno
(o melhor, porventura), era muito
mais do que bom aluno. Talvez
isto não seja lá muito fácil de explicar,
mas numa vida inteira não nos
passam todos os dias pela carteira
do lado tipos como este. Brilhante.
Uma mente brilhante. É o que ele é.
É a que ele tem. Seria desonesto para
comigo e para consigo não demonstrar
aqui algum orgulho por ter convivido
com Carlos Moedas. Por tê-
-lo conhecido tão bem e tão de perto.
Por termos rido juntos e até feito algumas
parvoíces. E também por vê-
-lo agora com uma pasta de comissário
europeu debaixo do braço.
Sim, sinto orgulho, profundo até,
por este bejense. Que não deixou de
exibir, certamente também com orgulho,
as suas origens aos deputados
que o quiseram escutar. Penso
que desde os tempos do Infantando
que Beja não gerava um quadro político
de tão elevado reconhecimento.
Valor. Mérito. Mas também seria desonesto
para comigo e para consigo
se não recordasse aqui, nesta euforia
contida, o papel que Carlos Moedas
teve no atual Governo português,
no apadrinhamento sorridente da
troika e no consequente afundamento
dos pobres do País. No consequente
afundamento do próprio
País. É certo que os homens se medem
pelo resultado, sempre variável
e indomesticável, do somatório entre
a sua “consciência” e o “meio” que
os rodeia. Nestes três anos de resto
zero, o “meio” sobrepôs-se sempre e
em todas as circunstâncias à “consciência”
de Carlos Moedas. Talvez
seja esta a hora de inverter o resultado
desta delicada operação aritmética.
Não é fácil. Isso é coisa apenas
dada a seres verdadeiramente
inteligentes. Não é fácil, mas talvez
seja esta a hora. A hora de tornar
a rir e de fazer algumas parvoíces.
Com o Carlos Moedas. Com o
tal que eu conheci nos bancos da escola.
Orgulhosamente.

Sem comentários: