sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Diário do Alentejo Edição 1699

Editorial
Condicional
Paulo Barriga

O atual Governo, teso e
com uma boa dose de
má vontade à mistura,
está-se borrifando para o desenvolvimento
do Alentejo. Ou melhor,
ao tomar Alqueva como peça
única e isolada e suficiente para o
progresso da região está, no final
de contas, a condená-la a um fracasso
estrutural sem precedentes.
É evidente que a agricultura é um
dos pilares capitais, se não o sustento
fundamental, para o crescimento
económico deste vasto território
interior. Mas, de uma vez
por todas, alguém tem de dizer a
estes tipos que a água nas plantações
não basta. Não é fator suficiente
para gerar riqueza e muito
menos para distribuir riqueza,
criar empregos, melhorar a qualidade
de vida das populações. A
agricultura regada no Alentejo,
que perigosamente está a afunilar
na monocultura do olival, apenas
será um Eldorado se as culturas
forem diversificadas, amigas
do ambiente e, acima de tudo, se à
produção se juntar a transformação.
Mas que empresário doido se
atreverá a erguer uma fabriqueta
que seja numa região criminosamente
isolada, sem vias de comunicação,
perdida no fundo do
mapa? Nenhum, por certo! Não
é muito difícil perceber que o
Alentejo ainda não deu o tão reclamado
“salto” porque as suas
duas vias rodoviárias estruturantes
estão num estado pós-bélico.
E porque o seu principal eixo ferroviário
foi transformado numa
anedota sobre carris. E, já agora,
porque o aeroporto de Beja está às
moscas precisamente devido ao
impasse no melhoramento das estradas
(IP8 e IP2) e da ferrovia que
são “fatores que condicionam o
negócio”. As palavras que ficaram
entre aspas podiam ser, mas não
são, de algum político mais assanhado
proveniente dos partidos
da oposição. São da própria administração
da empresa que gere os
aeroportos de Portugal. É que, ao
contrário do forrobodó piadesco
que a propaganda governamental
promove através dos canais
mais insuspeitos, o aeroporto de
Beja não é um elefante branco. “É
um investimento estratégico”, é a
ANA que o diz, com “um grande
potencial”. Nomeadamente para o
incremento do setor turístico que,
a par da agricultura inteligente, é
(será) o segundo sustentáculo da
economia local. Embora ambos, a
lavoura e o turismo, estejam “condicionados”
pelo abandono propositado
e perverso e imoral das
principais estradas da região e da
linha de comboios que atravessa
o interior sul do País. Há quem
continue a articular o Alentejo no
tempo condicional. Quando nós
sempre tivemos um fraquinho
pelo gerúndio. E isso já vai fartando.

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