sábado, 20 de dezembro de 2014

Diário do Alentejo Edição 1704

Editorial
Rankings
Paulo Barriga

Tenho um medo dos
rankings que me pelo.
E o que hoje não faltam
por esses matos de
Portugal são empresas “especializadas”
em elencar, organizar,
hierarquizar coisas.
Feitos. Serviços. Paisagens.
Comidas... enfim, vivemos
no tempo dos rankings. No
tempo das supostas avaliações
qualitativas sobre tudo
o que mexe e mesmo sobre
tudo o que não mexe. O
medo que tenho dos rankings
é bipolar. Quero dizer, é por
duas ordens de razão perfeitamente
inversas. E o pavor
que tenho dos rankings ainda
se aguça mais quando as top
lists envolvem o Alentejo. Ou
coisas que no Alentejo se passem
ou existam. Um dos lados
deste temor pende para
a desgraça. É mais fatalista
que o outro. Quando a ela
toca, à desgraça, ao empobrecimento,
ao envelhecimento,
ao abandono, lá costuma
vir o Alentejo na boca
dos rankings. O que gera, pela
persistência das causas e pelo
agravar continuado dos efeitos,
uma raiva do caneco. A
outra metade do medo que
tenho dos rankings (e esta
é a que mais sono me tira)
prende-se com o lado “bom”
da coisa. Quando o Alentejo
aparece no topo das listagens
por eventuais bons motivos.
Tal como agora aconteceu
com a divulgação do ranking
dos hospitais. Quando assim
é, até tremo. Repare-se
na manchete do “Diário de
Notícias” do passado dia 10:
“Hospitais de Lisboa piores
do que os do Porto e do
Alentejo”. Ui que medo de
tão boa notícia. Daquelas que
as empresas de rankings sabem
inventar para permitir
todo o tipo de legitimação futura
de aberrações governativas.
Como por exemplo concentrar
recursos e meios nos
hospitais de Lisboa, coitadinhos
deles. Eles andam aí.
Tenha medo. Muito medo.

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