sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Diário do Alentejo Edição 1712

Editorial
Empregáveis
Paulo Barriga

Isto não tem nada a ver com o “assunto”.
Mas é engraçado, para
meter conversa. Ao contrário do
próprio “assunto”. Que não tem piadinha
nenhuma. Desde que se formaram
as comunidades intermunicipais
que ando com a pulga por detrás
da orelha. Mordendo, mordendo. Em
tempos mais remotos a região onde
nos encontramos pertencia a uma
província que nos mapas vinha pintada
a cor-de-rosa com o nome Baixo
Alentejo gravo por cima em letras
de forma vermelhas. Mais tarde, ao
jeito dos jogos de estratégia, quatro
dos concelhos que formavam a nossa
província foram ocupados pelas forças
do Norte. Voltaram a fazer-se mapas.
Mas agora para delimitar distritos.
Sobrou-nos o distrito de Beja.
Mais recentemente, num rasgo de
grande deslumbramento geográfico
do ministro Miguel Relvas, o mapa
da região voltou a ser ratado. Tendo-
-lhe sido mordiscado o pedaço de litoral
que corresponde ao concelho
de Odemira. E assim se constituíram
as Comunidades Intermunicipais do
Alentejo Litoral e do Baixo Alentejo.
Em separado. Hoje, caso me perguntem
de onde sou, qual a minha região,
não sei responder com clareza.
A não ser que desenrasque a coisa assim
à laia da martelada: Sou do antigo
distrito de Beja, que já foi Baixo
Alentejo, e cujo mapa reduzido está
agora embutido na Comunidade
Intermunicipal do Baixo Alentejo,
entidade que corresponde ao tipo
III da Nomenclatura das Unidades
Territoriais para Fins Estatísticos
(NUTS). Nada mais claro, concreto e
conciso. Vem a conversa a propósito
do “assunto”. Esta semana esteve na
região atrás descrita com abundância
o presidente do Instituto do Emprego
e Formação Profissional. Nada de
extraordinário, dirão. Pois. Só que
na informação que nos endereçaram
dizia que Jorge Gaspar se propunha
visitar “toda a rede de serviços
do IEFP na área da Comunidade
Intermunicipal do Baixo Alentejo”.
E aqui me apercebi, o final e talvez
tardiamente, da modernice, ou melhor,
do raio do nome que hoje tem
a nossa região. Por falar em modernices,
vamos lá ao “assunto”. A ideia
dominante desta embaixada era a seguinte:
As pessoas, hoje, devem manter-
se meigas e obedientes. Devem
tirar muitos cursos profissionais.
Devem frequentar muitas ações de
formação. Devem ser o mais polivalentes
possível. Devem aceitar todo
o tipo de “emprego” que lhes aparecer.
Devem concordar em trabalhar a
desoras e quando calhar. Devem ser
educadas e bem apresentadas. E devem
estar preparadas para muitos
períodos de desemprego. Estas são as
condições necessárias para se manterem
“empregáveis”. Confesso, é inovação
a mais para quem ambiciona
evitar a dependência de antidepressivos.
Mesmo para aqueles que vivem
cá por baixo. Na terra do não sei
o quê, nem sei dos quantos.

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