sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Diário do Alentejo Edição 1713

Editorial
Português
Paulo Barriga

Amanhã é Dia Internacional
da Língua Materna. A
nossa, o português, tem a
sua história e influenciou a história
de muitas outras línguas e dialetos
pelas sete partidas do mundo.
Hoje, o português é a quinta língua
mais falada em todo o planeta
e a primeira no hemisfério sul. Tem
perto de 240 milhões de falantes.
É muita gente a falar um linguajar
que nasceu num pequeno lameiro
da Galiza. Hoje não restam dúvidas,
os tesouros que trouxemos de além-
-mar são infinitamente singelos perante
a riqueza que por lá deixámos:
A nossa língua mãe. A nossa pátria,
no dizer profético de Fernando
Pessoa. Amanhã, todos os povos
do mundo celebrarão a sua língua.
Mas será que nós, os herdeiros de linhagem
da língua portuguesa, temos
razões para festejar? Esta semana
fomos à escola. Falámos com
diferentes alunos sobre o português.
Nenhum deles colocou a disciplina
no lote das suas preferências.
Os porquês, perceberemos a seguir.
Com os professores. Também falámos
com eles. Que são unânimes
em elogiar os novos programas curriculares
para o ensino da língua
portuguesa. Os princípios, as metas
e os conceitos de ensino são válidos.
Mas… mas é impossível levá-los à
prática. Por um simples motivo: já
não há professores. Pois é. As supostas
reformas que nos anos mais
recentes se fizeram na educação em
Portugal mais não foram, afinal, do
que verdadeiros saques às nossas
reservas de ouro. Não falo propriamente
dos lingotes que Salazar empilhou
nas catacumbas do Banco
de Portugal. Falo do filão, do único
veio de minério bom, que todos podemos,
devemos e temos o direito
de garimpar: a nossa língua. Porque
a língua é o mais democrático e supostamente
universal dos utensílios
que as sociedades devem proporcionar
aos seus membros. O bom uso
da língua materna, para lá das virtudes
comunicacionais que lhe estão
associadas, é um poderoso veículo
de conhecimento, de cultura,
de identidade. Extinguindo os professores
de língua portuguesa,
como agora está a acontecer, estamos
a limitar as novas gerações ao
acesso a um bem insubstituível.
Transformar os professores em autênticos
burocratas, assoberbá-los
de trabalho suplementar não letivo,
empilhar-lhes alunos em sala, desterra-
los das suas áreas de residência
é um ato de violência não apenas
sobre os docentes, mas sobretudo
sobre os alunos. José Saramago gostava
de dizer que cada qual apenas
pensa com as palavras que
conhece. Também se poderia ter resumido
toda esta conversa a três palavrinhas
apenas, repetidas exaustivamente:
aberração sem sentido!
Aberração sem sentido! Aberração
sem sentido… mas não teria sido a
mesma coisa, pois não?

Sem comentários: