sexta-feira, 13 de março de 2015

Diário do Alentejo Edição 1716

Editorial
Legionella
Paulo Barriga

Há três semanas a esta parte
que o “Diário do Alentejo”
anda a fazer uma ronda de
entrevistas com os autarcas da região.
Na última edição falámos com
o presidente da Câmara Municipal de
Almodôvar sobre diferentes temas da
atividade política local. E, nomeadamente,
sobre a persistência no aparecimento
da bactéria legionella na
rede de abastecimento de águas de
Almodôvar. Sobre o assunto, António
Bota, que foi eleito pelo PS nas últimas
Autárquicas e que gere a câmara
de vereadores com maioria relativa e
em aliança com o PSD, não deixou de
afirmar repetidamente as suas “suspeições”
sobre o ressurgimento da
bactéria. Desconfianças que levaram
o autarca a afirmar, em tom perentório,
a existência de “sabotagem”. A
entrevista foi gravada e reproduzida
no “Diário do Alentejo” de forma fiel,
com exatidão e ética. Em reação a esta
entrevista, o PSD fez circular um comunicado
onde demonstrava a sua
“estupefação” perante as suspeitas de
sabotagem lançadas por António Bota.
E o Movimento de Independentes por
Almodôvar, encabeçado pelo anterior
presidente da edilidade, exigiu a marcação
urgente de uma reunião de vereadores
para discutir o assunto. Face
ao grave teor das declarações proferidas
a este jornal, são desenvolvimentos
previsíveis ao nível da esgrima política
local. O que não seria espectável
é que António Bota viesse a público,
através de comunicado do Município
de Almodôvar, afirmar que o jornalista
“tirou proveito” das suas palavras.
Não me parece que esta seja uma
leitura justa, correta, honesta e séria do
assunto. Até porque se tratou de uma
entrevista formal, previamente acordada,
que decorreu durante cerca de
30 minutos no gabinete do presidente.
Ou seja: António Bota sabia com quem
estava a falar e a quem eram dirigidas
as palavras que estava a proferir. Não
inventámos as suas declarações. Elas
não foram pronunciadas off record.
Nem invertemos ou transformámos o
sentido das mesmas. O autarca afiança
também que a sua afirmação “foi
prontamente aproveitada, ampliando
a ideia de que existe sabotagem neste
caso, o que de facto não corresponde
à verdade”. Mas a verdade verdadinha
é que António Bota foi bastante claro
no que afirmou. Perentório. E declarativo.
As suas afirmações, ao contrário
do que agora diz, não foram proferidas
em “tom de desabafo”, mas no
decurso de uma entrevista jornalística
formal e gravada. Mas o mais grave é
que António Bota dá a entender que
houve manipulação das suas declarações
por parte do “DA”, utilizando-as
para titular a entrevista. É uma, mais
uma, denúncia grave e que põe em
causa o rigor profissional do jornalista
e do jornal. Peço apenas que qualquer
criança de seis anos e que António
Bota leiam a entrevista de fio a pavio.
Na certeza que qualquer criança escolheria
aquele título depois da leitura.
Mas que António Bota talvez não.

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