quinta-feira, 30 de abril de 2015

Diário do Alentejo Edição 1713

Editorial
Quase
Paulo Barriga

Esta quarta-feira quase tive
uma reunião com Pedro
Passos Coelho. É verdade!
Não foi o primeiro-ministro que
me fez o convite, é bom que se
diga, mas quase. Foi o presidente
do Partido Social Democrata, o
que é quase a mesma coisa, com
exceção do pin que um e outro
usam na lapela. Mas pronto, na
ideia de Passos Coelho, aproveitando
as visitas políticas ao
Alqueva e à Ovibeja, seria importante
falar com alguns diretores
de jornais da região. A reunião
esteve marcada para Évora,
que é quase aqui ao lado, mas foi
cancelada à última da hora por
motivos de força maior: a realização
do Conselho Nacional do
PSD, em Lisboa. Foi pena! A iniciativa
de convidar jornalistas
para uma conversa, à porta fechada
e sem direito a recolha de
som, quase teve a sua piada. De
mau gosto, mas quase teve a sua
piada, numa altura em que a parvoíce
e as piadas de mau gosto
quase tomaram por completo
a política nacional. O próprio
PSD, atrelado ao PS e ao CDS, na
passada semana, em vésperas da
comemoração do 25 de Abril, saboreou
a gracinha de tecer uma
iniciativa legislativa no campo
dos media que quase roçou o escarro.
A coisa é hilariante, inacreditavelmente
hilariante, embora
apenas dê para chorar. Três
deputados da República, representando
cada um dos partidos
do atrelanço, andaram durante
semanas a congeminar a criação
de uma comissão de exame prévio
com autoridade para obrigar
os órgãos de comunicação social
a apresentar os respetivos
planos de cobertura das campanhas
eleitorais que se avizinham.
São válidas e boas e apenas
pecarão por defeito todas as
comparações que se façam com
outros tempos. Pelo que não me
deterei em afocinhar ainda mais
na lama da sua idiotice os três
tristes palermas que, só pela rica
ideia, já deviam ter sido pontapeados
Parlamento a fora. O
que quase estive por perguntar
a Passos Coelho sobre o assunto
é se ele assinava por baixo
a criação desta nova comissão
de censura. O que quase estive
para dizer a Passos Coelho é que
o “Diário do Alentejo” será desobediente
e resistirá até às últimas
consequências a esta ou a
qualquer outra lei que limite ostensivamente
a liberdade de imprensa
e que seja intrusiva em
relação à linha, à organização e à
orientação editorial deste jornal.
É isto que quase estive para comunicar
a Passos Coelho na reunião
que quase esteve para acontecer
na última quarta-feira.

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