quinta-feira, 2 de abril de 2015

Diário do Alentejo Edição 1719

Editorial
Internacional
Paulo Barriga

É triste. É revoltante. Causa
amargura e desconsolo.
Mas é verdade: o aeroporto
de Beja transformou-se numa das
mais preciosas pérolas do anedotário
nacional. E, bem vistas as coisas,
não é para menos. A coisa começou
mal logo de início quando
se projetou para o Alentejo uma estrutura
aeroportuária sem nunca
se ter equacionado a sua rendibilidade.
É certo que o investimento de
arranque, em termos quantitativos,
é qualquer coisa de ridículo. Mas
pronto, fez-se o dito cujo, na esperança
de assim se completar uma figura
geométrica algo esotérica a que
alguns políticos gostam de chamar
“triângulo do desenvolvimento”. Os
outros vértices do trilátero seriam,
na abstração, o Alqueva, e, no concreto,
o porto de Sines. O polígono
completava-se necessariamente
com os respetivos lados, as rodovias
e a ferrovia. Os geómetras do
progresso alentejano continuam
a insistir na ideia de “triângulo”. É
uma reflexão interessante e deveras
inovadora esta, a de conceber
um triângulo sem os segmentos de
reta que deveriam unir cada um dos
vértices. Mas pronto, eles lá sabem.
O problema é que a figura começou
a ter contornos bizarros. O porto de
Sines estendeu um dos lados para
norte, deixando de fazer esquadria
com Beja. E o Alqueva, confrontado
com os preços assustadores das
operações no aeroporto, irradiou
em todos os sentidos como uma estrela
quando nasce. As estradas e
a linha de comboios estão como se
sabe. E pronto, lá ficou o aeroporto
de Beja, no meio do plano, sem lados
que o liguem a qualquer outro
ponto e sem outros pontos para
se ligar mesmo que lados lhe quisessem
delinear. Entretanto, a empresa
que gere os aeroportos nacionais,
a ANA, foi privatizada. Mas
no desenho de regra e esquadro da
operação de privatização foi esquecido,
mais uma vez, o ponto alentejano.
Sem estratégia, sem plano
definido, sem obrigações para o incremento
de negócios, lá continua
o aeroporto de Beja a ver passar os
bandos de carraceiros ao entardecer.
Mas há uns meses a esta parte
apareceu nos jornais uma boa notícia.
Supostamente. Estava a ser
criada uma rota aérea interna para
ligar Bragança a Portimão, com
descidas nos aeródromos de Vila
Real, Viseu e Cascais. Então e Beja,
pá? Perguntaria qualquer cauteleiro
das Portas de Mértola. “Beja não,
pá”, responderia o Governo, “é que
vocês têm aí um belo aeroporto internacional
e Bruxelas não deixa
que aterrem aviões de pequena dimensão
em aeroportos de alto calibre
como o vosso”. Bem vos disse
que era triste, revoltante e que causava
amargura e desconsolo. Mas
sejamos honestos: que o aeroporto
de Beja se presta a umas boas piadolas,
lá para isso presta!

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