sexta-feira, 8 de maio de 2015

Diário do Alentejo Edição 1724


Editorial
Praias
Paulo Barriga

O tempo tem andado empastelado
que nem um folhado de
azeite. Ora chove, ora faz frio,
ora assim-assim. Sair de casa, pela manhã,
é uma verdadeira lotaria de guarda-
-fatos. É tão raro acertar na taluda das
mangas-cavas ou da gola-alta como encontrar
uma tirada certeira nos discursos
de Cavaco Silva. Em maio do ano
passado já se adivinhava o verão. E os
gin and tonic. E a maresia. Este ano, não!
Nem uma caracolada de balcão é possível
antever de um dia para o outro, tal o
aborrecimento do tempo que faz. E dos
tempos que agora passam. O verão não
tarda no calendário, mas só com grande
genica imaginativa hoje nos virá à lembrança
uma bola de berlim. Isto para
qualquer comum dos mortais. Porque
há quem olhe para o verão por nós e
nos queira proteger as toalhas dos salpicos
de areia das campanhas eleitorais
e dos chi-chis da propagando política.
Cavaco Silva. Pois claro, quem mais poderia?
O bom do nosso Presidente está
preocupado com a possibilidade de o
chinfrim da campanha para as Eleições
Legislativas poder incomodar as férias
dos seus compatriotas. Coisa sagrada
em demasia, as férias, para ser interrompida
pelas buzinas e pelas pernas branquelas
dos políticos em campanha. Por
isso mesmo, recomenda o senhor Silva, o
ato eleitoral deve ocorrer apenas em outubro
e nunca em setembro. Bom, talvez
Cavaco tenha alguma razão a este
respeito. Mas pouca. Pezinho de político
na areia dourada não é lá muito elegante,
é um facto. Mas eleições em cima
do período de elaboração do Orçamento
do Estado e coladas umas às outras (as
Presidenciais vêm já a seguir) é que não
tem mesmo jeito nenhum. Talvez a melhor
ideia (pena já não irmos a tempo
nem a horas) fosse ter marcado as ditas
cujas para antes do verão. Até porque
o tempo, empastelado, está de feição
para umas idas às feiras e aos mercados.
Também é verdade que ninguém saberia
hoje em quem votar, nem mesmo
os próprios candidatos, tal a pobreza ou
a inexistência de propostas e de ideias
para o País. Mas vá lá, do mal o menos.
O curioso deste pensamento estival de
Cavaco Silva prende-se também com os
cuidados e com a atenção que aparenta
nutrir pelo povo indígena. O Presidente
está preocupado com os incómodos que
possam atingir as férias dos portugueses.
Mas não diz uma palavra sobre…
a esmagadora maioria de portugueses.
Sobre os tais que nem férias têm graças,
precisamente, ao “bom caminho”, como
o próprio agora afirmou, que as contas
públicas nacionais estão a trilhar. Para
esses, para os rapinados e entesados, talvez
até fosse uma boa distração a campanha
eleitoral decorrer em pleno verão.
Pelo menos havia alguma inovação
em relação à programação das festarolas
de aldeia, das feiras e das romarias que
preenchem o tão querido mês de agosto
de Cavaco Silva. Mas isto sou eu a dizer
agora, numa altura em que o tempo anda
empastelado. Por certo que a Ágata, o
Toy, os Némanus, alguns padres e os presidentes
das comissões de festas pensam
de forma diferente. Talvez, não sei!

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