segunda-feira, 18 de maio de 2015

Editorial
Sebastião
Paulo Barriga

Durante muitos anos defendi
a criação de uma região
administrativa para
o território da antiga província do
Baixo Alentejo. Na minha cabeça, a
coisa fazia sentido por duas ordens
de razão. Em primeiro, pela homogeneidade
e pela proximidade cultural
e identitária entre os povos do
Sul do Alentejo e do Litoral. E, depois,
pela contestação natural ao
centralismo de um único Alentejo
em Évora, tal como tem acontecido
ao longo dos tempos em prejuízo
das zonas mais periféricas. Esta
ideia tinha, e ainda tem, apoiantes
e detratores cujos argumentos, os
de uns e os dos outros, são sobejamente
conhecidos. E sempre alicerçados
em considerandos mais de
ordem política, em estratégias partidárias,
do que propriamente na
racionalidade, na exequibilidade
e na urgência de adotar as regiões
administrativas em Portugal continental.
Foram precisamente estas
tricas que levaram ao descalabro
na votação referendária de 1998
(em contraciclo o “sim” venceu no
Alentejo). E que deixaram o País na
deriva administrativa que hoje se
encontra. Com os dinheiros “descentralizáveis”
postos nas mãos de
comissões de coordenação regional
não eleitas e não escrutinadas. E
com as competências supramunicipais
relegadas para comunidades de
autarquias feitas à martelada e impostas
de cima para baixo. A governança
regional em Portugal é hoje
uma perfeita anedota. Uma realidade
antidemocrática, anacrónica
e, a todos os níveis, inaceitável. Em
ano de eleições para a Assembleia
da República é fundamental que os
partidos tomem a coragem de recolocar
na agenda de campanha a
questão da regionalização. Porque,
tal como está, o território caminha
alegremente para a falência. O litoral
está condenado pela concentração
desmedida e o interior sentenciado
pela desertificação humana.
Durante anos defendi, já o disse,
uma região administrativa para
o antigo Baixo Alentejo. A visão
de um Alentejo único e indivisível
sempre me provocou muita comichão
na moleirinha. Hoje penso de
forma diferente. Para já, os municípios
do Litoral estão absolutamente
contra a integração numa sub-região
com tal desenho. Depois, é
muito mais o que nos une de Nisa
a Odemira e de Barrancos a Vendas
Novas do que aquilo que nos separa.
Bom exemplo disso é o sucesso
da marca turística “Alentejo”.
E, por fim, o que urge mesmo é acabar
com a hegemonia administrativa
do Terreiro do Paço. É evidente
que a sombra de Évora, que costuma
comer tudo, tudo, tudo, pairará
sempre sobre todos nós. Mas
antes um Sebastião barrigudo eleito
em Évora, do que uma mancheia de
pançudo em Lisboa, sempre prontos
a meter a colher.

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