sexta-feira, 24 de julho de 2015

Diário do Alentejo Edição 1735

Editorial
Economês
Paulo Barriga

Já poucos se recordam do tempo
em que o economês ainda não
era a primeira língua oficiosa
das pessoas comuns. Do tempo em
que o PIB e a divida pública não entravam
nas conversas de balcão. Em que
o resultado do futebol se discutia em
golos e nem tanto em fundos financeiros.
Em que havia superavit comunicativo
e deficit de incumprimentos. Já
poucos se recordam do tempo em que
o dinheiro se dizia e media em função
das centenas que havia na algibeira e
não dos milhares de milhões que hoje
se escapolem para as offshores “sem
deixar rasto”. Em que as notícias do estado
do tempo ou o anúncio da chave
do Totobola estavam sempre em alta
face ao resumo dos índices bolsistas.
Nessa época pré-economês, quando
se dava o caso, alguma malta do norte
gostava já de exibir alguns tiques esquisitos.
Diziam que lá eles é que trabalhavam,
que produziam, que criavam
riqueza, que levavam o país para
diante. Enquanto nós, os mouros, éramos
uns malandros, uns preguiçosos,
que vivíamos à custa do orçamento e
tal. Não me recordo nem como, nem
quando, nem por que razão se deixou
de escutar esse tipo de argumentação.
Certo é que há já alguns anos a esta
parte que não vai à televisão (ou assim)
nenhum cavador de enxada com sotaque
abimbalhado cantar tal cantiga.
Por muita pena minha e talvez por
preguiça, reconheço, não consegui encontrar
dados concretos sobre a criação
de riqueza no Alentejo em 2014.
Ano em que o Produto Interno Bruto
Nacional rondou os 173 mil milhões
de euros. O que, para uma população
de cerca de 10 milhões, representará
qualquer coisa como 17 mil euros por
pessoa no referido período. No Censos
de 2011, a região Alentejo, um terço
do território do País, contava com 757
302 almas. Dessas, apenas 224 617 tinham
escolhido a antiga província do
Baixo Alentejo para residir. Não consigo
afirmar, lamento novamente,
quanta riqueza poderá ter produzido
cada um destes habitantes ao longo
do último ano. Embora não estranhe
que, neste momento, esta seja a região
mais rica de Portugal, tendo em
conta a ocupação populacional. Assim
por alto, basta olhar para o boom agrícola
que está a acontecer na zona de intervenção
de Alqueva e a ele juntar as
produções de enorme valor acrescentado
que se verificam no perímetro do
Mira. Sem esquecer o contributo da
indústria extrativa em Aljustrel e em
Castro Verde, o turismo que começa a
ganhar asas em toda a extensão territorial,
e, claro, as industrias petrolíferas
e de transportes marítimos afetadas
ao complexo portuário de Sines. O
Baixo Alentejo está a consolidar estruturas
produtivas muito relevantes que
auspiciam um futuro de sucesso ao nível
do emprego e da criação de valor. E
talvez seja por isso mesmo que os galegos
nos deixaram de chamar malandros.
E que a melhor palavra do
economês que nos defina seja “sustentabilidade”.

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