sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Diário do Alentejo Edição 1738

Editorial
Desgraça
Paulo Barriga

Das duas, talvez ambas: ou isto
anda tudo a dormir na formatura
ou então estão-se pura
e simplesmente marimbando para a
malta. Repare-se bem: o mesmo secretário
de Estado que, no final de 2011,
mandou interromper as obras no IP2 e
no IP8, o mesmo fulano que apagou do
mapa as ligações ferroviárias de Beja
para o Sul e que inviabilizou a eletrificação
da linha de comboios para o Norte,
o mesmo tipo que então dizia que o aeroporto
de Beja era um “problema” e
que nunca deveria ter sido construído,
esse mesmo marmelo esteve há dias
em Beja na assinatura de uma licença
para a instalação de uma empresa de
desmantelamento de aviões. Naquela
que foi uma das mais afrontosas e despudoradas
operações de campanha
eleitoral encapotada de que há memória.
Cerimónia onde o dito-cujo se fez
fotografar ao lado da recém-caída-do céu
cabeça-de-lista do PSD/CDS-PP
por Beja, tecendo-lhe desmesurados e
rasgados elogios, apesar de repetidas
vezes ter esclarecido que a sua presença
por cá “não devia ser confundida com
qualquer apropriação”. Isto foi a 31 de
julho, “dia de felicidade”, para utilizar
as palavras do beltrano. Dia em que se
repisou a ideia de criar um cluster aeronáutico
no sudoeste peninsular, com
focos repartidos entre Beja, Évora e
Sevilha. Sendo que o aeroporto de Beja,
agora que estava em definitivo encontrada
a sua vocação industrial, teria
um papel fundamental neste triângulo
inventado à pressão para justificar
aquilo que o presidente da Câmara
de Évora iria revelar passados apenas
seis dias, a 5 de agosto: que a sede do futuro
Cluster de Aeronáutica, Espaço e
Defesa ficaria naquela cidade. Isto devido
aos bons esforços do município,
da Universidade de Évora, do Parque
de Ciência e Tenologia do Alentejo e da
empresa brasileira Embraer. E, aqui,
tenho que dar razão ou algum valor à
fixação que o secretário de Estado tem
contra o aeroporto de Beja, esse osso de
galinha que o homem traz atravessado
na garganta e que lhe cria convulsões e
alguma asfixia. De facto, tudo isto, todas
estas jogadas de bastidores, sairiam
facilitadas e seriam espontaneamente
justificadas caso o aeroporto nunca tivesse
sido construído. Desta forma, e
não tendo sido possível eliminá-lo, apesar
de todos os esforços nesse sentido
encetados nos últimos anos, torna-se
mais complicado fazer rolar o embuste.
Por muitas voltas que se lhe dê, o aeroporto
está em Beja e tudo o que se passar
no Alentejo ao nível da aeronáutica
e da aviação civil terá que passar por
Beja. Necessariamente. Ou, pelo menos,
terá de se equacionar sempre essa
possibilidade. O que não aconteceu
com o Cluster de Aeronáutica, Espaço
e Defesa que foi plantado de estaca em
Évora, sem que a nível local se ouvisse
uma única voz a contestar nem a repudiar
tal decisão. Para gáudio, claro está,
do senhor secretário de Estado. Que se
chama Sérgio Monteiro. E que neste governo
teve a pasta das Infraestruturas,
Transportes e Comunicações. Para
nossa desgraça.

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