sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Diário do Alentejo Edição 1742

Editorial
11/9
Paulo Barriga

Há 14 anos, por volta da hora a
que passam os telejornais do almoço
em Portugal, espatifou-
-se contra a torre norte do World Trade
Center, em Nova Iorque, o primeiro dos
quatro aviões comerciais desviados por
comandos suicidas da Al-Qaeda. Um
atentado terrorista sem precedentes que
não apenas chocou o mundo, como lhe
mudou em definitivo a própria face. A
11 de setembro de 2001 a Humanidade
inaugurou uma nova era: a era do medo
global. De forma tardia, num sobressalto,
o Ocidente percebeu por fim que a violência
extrema e o terrorismo não eram coisas
exclusivas da indústria cinematográfica.
E que, tal como os hambúrgueres ou
como os dispositivos eletrónicos, o terror
também tinha acedido aos canais da
globalização. Como se veio a comprovar
mais tarde em Londres, Madrid, Paris
ou Boston. A guerra é a guerra. Embora
nenhum arsenal militar seja suficientemente
letal para combater um inimigo
invisível. Imprevisível. Cuja base de comando
ocupa um território interior: o
território do rancor. De um rancor que
vai muito para lá da aversão, que vai
muito para lá da compreensão, que vai
muito além da própria vida enquanto valor
fundamental. E, neste aspeto, a reação
dos EUA aos crimes do 11 de Setembro,
foi também ela um atentado. Em meia-
-dúzia de dias se fez aprovar o chamado
Ato Patriótico, cujo articulado antiterrorista
lançou as bases da “guerra ao terror”.
Na Casa Branca, a cara pintada
no centro do alvo era a de Ossama Bin
Laden, o líder da Al-Qaeda, então refugiado
no Afeganistão dos talibãs. George
Bush, enfatizando um discurso religioso
ultraconservador, mostrava-se ao
mundo como o novo cruzado contra o
“eixo do mal”. A guerra no Afeganistão,
lançada pouco mais de um mês após o 11
de Setembro e cujo prazo era de dois dias,
ainda hoje perdura. O Iraque de Saddam
Hussein era o segundo prato do cardápio
do presidente norte-americano, cuja
máquina de guerra se instala no pó do
deserto em março de 2003. Uma ofensiva
que não deixará pedra sobre pedra.
E que vai mostrando ao mundo os equívocos
quanto às motivações que presidiram
àquela campanha, as modernas formas
de tortura e a grande inovação para
presos alegadamente terroristas, detidos
arbitrariamente e sem direito a julgamento
mas com estadia garantida na
ilha caribenha de Cuba, de fronte para a
baía de Guantanamo. A ideia peregrina
da administração Bush de “aniquilar”
o terrorismo mundial deu no que deu.
Estilhaçaram-se os equilíbrios políticos,
étnicos, tribais e religiosos em boa parte
do mundo islâmico. Multiplicaram-se os
conflitos civis armados. Fundaram-se
aberrações transfronteiriças como o
Estado Islâmico. E inaugurou-se a maior
vaga de refugiados de que há memória
desde o tempo das SS. Faz hoje 14
anos que os piratas do ar levaram os aviões
para cima das Torres Gémeas e do
Pentágono. Mas o 11 de Setembro continua
a perdurar no que resta da cidade
histórica de Palmira, numa barcaça sobrelotada
em pleno Mediterrâneo, numa
estação de comboios de Budapeste… Ou
simplesmente numa amarga fotografia
obtida numa praia da Turquia.

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