sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Diário do Alentejo Edição 1745


Editorial
Odemira
Paulo Barriga

E, num repente, Odemira voltou
a fazer parte do mapa. As
eleições, as necessidades eleitorais,
têm destas coisas fenomenais,
assim ao jeito do milagre de Lázaro.
Já por várias vezes aqui falámos sobre
os sucessivos desmembramentos
do mapa territorial do naco mais
a sul do Alentejo. Da anexação incondicional
de quatro concelhos do
Baixo Alentejo ao distrito de Setúbal.
E, mais tarde, do rasgão que foi feito
ao distrito de Beja com a criação das
comunidades intermunicipais, perdendo-
se então a integralidade territorial
com a cessação do concelho de
Odemira. Diga-se, em abono da verdade,
que a imposta desincorporação
de Odemira ao mapa regional foi feita
sem grandes alaridos, de forma silenciosa,
e, lamentavelmente, isenta de
solidariedade por parte dos restantes
concelhos do interior. O normal, sempre
que há cisões na estrutura de um
território, seja ele qual for, é que estale
protestos, escaramuças, posições extremadas
ou, pelo menos, assobiadelas
e pateadas. Nada disto aconteceu com
o “chega para lá” que o Governo deu às
terras de Odemira. Todos se calaram.
Talvez porque todos, politicamente, tenham
ficado bem, num tempo em que
os números e o imediato contam mais
do que as pessoas e o seu futuro coletivo.
O problema é que os números são
o que são e valem o que valem. Ou melhor,
o valor que têm hoje pode ser exatamente
inverso à grandeza que poderão
representar amanhã. É o que está a
acontecer com Odemira, por estes dias
de eleições. Como o sistema eleitoral
português está organizado em círculos
distritais, Odemira voltou a contar.
E de que maneira. Primeiro, é um dos
concelhos mais populosos do distrito,
com um peso de decisão nas eleições
superior a 17 por cento. E, depois, porque
para aquelas bandas, o eleitorado
costuma “deslocar-se” com alguma
naturalidade. Nas Legislativas de 2011
muito se falou do “efeito Moedas”. Ou
seja, do elã que o candidato do PSD
conseguiu então ungir junto dos votantes
da região. Com Moedas, rapaz
da terra, os sociais-democratas atingiram
um resultado sem precedentes.
O curioso é que boa parte desse upa-
-upa do PSD se ficou a dever aos eleitores
de… Odemira. E os políticos perceberam
isso? Ah pois perceberam! O
PS não só lançou em segundo lugar da
lista o atual presidente da Câmara de
Odemira, como o seu líder nacional,
António Costa, não deixou de lá dar
um saltinho, na única aparição que fez
no distrito ao longo de toda a campanha.
A coligação que está no Governo
não tem deixado de calcorrear aquele
concelho e até organiza dois encerramentos
de campanha: um em Beja e
outro em… Odemira. E a derradeira
ação de campanha do cabeça-de-lista
da CDU, um jantar/comício, está marcado
para… Odemira. Mas será que
Odemira voltou mesmo a fazer parte
do mapa? Ou será apenas mais um daqueles
epifenómenos ao alcance da tão
famosa expressão: “é a política, estúpido”!

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