sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Diário do Alentejo Edição 1749

Editorial
Parvos
Paulo Barriga

“Ou és parvo ou és de
Beja”. É com esta depreciação
popular
que em Évora se costumam rotular
os habitantes da cidade vizinha
mais a Sul. Já em Beja, o trato que de
forma maliciosa se dá aos eborenses
passa pela alcunha de “fecha a
roda”. Não é de hoje, e nem sempre
foi tão mansa, a rivalidade entre as
duas principais cidades do Alentejo.
Embora o motivo que leva ao desagrado
de Beja em relação a Évora tenha
barbas de tão velho que é e seja,
em regra, um e apenas um: a deslocação
de bens e de serviços de sul
para norte. Recorrência que, nos últimos
tempos, voltou a ganhar peso
e largura com a questão, imagine-
-se, da aeronáutica e assuntos afins.
Nesta matéria Beja leva bons anos
de avanço em relação a Évora. Quer
pela criação da BA11, em 1964, quer
pela inauguração do terminal civil,
em 2011. Com sustento nesta “tradição”
e nas infraestruturas entretanto
criadas, torna-se absolutamente
impossível explicar a um
bejense que as indústrias e os polos
de investigação do setor aeronáutico
estejam a ser canalizadas na totalidade
para Évora, onde apenas existe
um pequeno aeródromo municipal
(como, aliás, também existe em
Beja, embora o estado de abandono
e de degradação a que chegou roce a
vergonha). Esta semana caiu a notícia
que parece ter feito transvazar o
copo. Novamente. O helicóptero do
Instituto Nacional de Emergência
Médica estacionado em Beja, na
BA11, voou em definitivo para o aeródromo
de Évora. Justificação do
INEM: Indisponibilidade de manutenção
e de acolhimento na base de
Beja, em função do exercício militar
da NATO que aí decorre. Então
e quando terminarem os jogos de
guerra, o helicóptero regressa a
Beja? Resposta do INEM: não, a colocação
do helicóptero em Évora é
a que melhor serve as necessidades
da população. Através de mapas
comparativos da área de intervenção
do helicóptero, o “Diário do
Alentejo” demonstra como é falso
este argumento do INEM e como,
uma vez mais, por meros motivos
político-administrativos ou o diabo
que o valha, o maior distrito do País
perde um equipamento fundamental,
deixando uma fração considerável
do território sem assistência
médica de emergência. Já boa
parte do mapa mais a norte (isto
não é para rir, é para chorar) pode
optar pelos meios aéreos existentes
em Ponte de Sor e em Évora. São estes
jogos de bastidores, avelhacados
e nada transparentes, que, de forma
lamentável, deitam por terra a ideia
de uma só região Alentejo. E que
atiram para as calendas a pacificação
dos ânimos entre Beja e Évora.
Assim sendo, lá vão uns prosseguindo
o fecho da roda. E outros a
serem comidos como parvos.

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