sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Diário do Alentejo Edição 1751

Editorial
Namíbia
Paulo Barriga

Esta semana caiu mais uma
boa notícia para o Alentejo
no que toca ao reconhecimento
dos seus valores culturais
por parte da Unesco. Os peritos
do Comité Intergovernamental
para a Salvaguarda do Património
Cultural Imaterial, cuja décima
sessão se realiza no final do mês
na capital da Namíbia, recomendaram
a inscrição da “arte chocalheira”,
cujo epicentro é a vila de
Alcáçovas, na lista representativa
dos “bens” com necessidade de salvaguarda
urgente. Embora não seja
um parecer vinculativo, sempre
que tal acontece, o Comité acaba
por acatar a opinião dos expertos
na matéria. Tudo indica, por conseguinte,
que daqui a duas semanas,
Portugal e o Alentejo, venham
a ter mais uma expressão artística
reconhecida como Património da
Humanidade. O que faz desta região
um verdadeiro caso de estudo
no que toca à sua herança imaterial.
Para se ter uma ideia da real dimensão
deste fenómeno basta lembrar
que, incluindo antecipadamente
o fabrico de chocalhos, Portugal
tem quatro expressões reconhecidas
pela Unesco: o fado, o cante e
a dieta mediterrânica, esta última
em conjunto com outros seis países.
Destas, duas apontam imediatamente
para o Alentejo e outra, a
dieta mediterrânica, não lhe é de
forma alguma indiferente. E não se
pense que se trata de uma incidência
recorrente. Em toda a Europa
apenas existem 21 “bens” reconhecidos
e, para fechar o foco de comparação,
em Espanha somente dois.
O mais curioso é que, no território
histórico do Alentejo, existe ainda
uma boa mancheia de expressões
culturais que podem, nos próximos
tempos, vir a ser inscritas na lista
representativa do património universal
e coletivo. É o caso das tapeçarias
de Arraiolos e de Portalegre,
das Festas do Povo de Campo Maior
ou das jangadas de canas de São
Torpes. Por cá, há quem sustente
que se está a banalizar esta importante
ferramenta internacional.
Argumentam os detratores que a
proliferação de candidaturas vulgariza
a verdadeira essência da lista da
Unesco: a excelência. Não é impróprio
reconhecer alguma razão nesta
crítica. Nem todo o bicho careto
tem espessura para ser patrimoniável.
Mas, aí, cabe aos detentores e às
instituições de proximidade, nomeadamente
as autarquias, promover
a autocrítica. Agora, o que parece
importante realçar é que o Alentejo,
na sua diversidade, é possuidor de
um conjunto de manifestações, de
artes e de práticas culturais que são
manifestamente diferenciadoras. E
é dessa variedade e da sacralização
desses mesmos bens, que emana
esta coisa tão própria, tão vincada
e tão difícil de definir que é o “ser
alentejano”. O Alentejo não tem
“patrimónios” a mais. O Alentejo é
em si património da humanidade.

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