sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Diário do Alentejo Edição nº 1750

Editorial
Albufeira
Paulo Barriga 

Quem é vivo, mesmo quando
aparentemente morto e enterrado,
sempre aparece.
Há muito que não era visto nem achado
o sr. Polis. Lembra-se dele? Daquele
monstrinho que António Guterres
criou em 2000 e que José Sócrates
gostava de trazer à trela? Recorda-se
daquele mastim que tudo abocanhava
em nome da suposta regeneração
urbanística e ambiental das cidades?
Pois ele aí está de novo e em todo
o seu esplendor nas enxurradas de
Albufeira. Já lá iremos. O Programa
Polis, cruzes credo, é um marco para
o País. É a linha de partida na corrida
desenfreada de Portugal rumo ao
precipício financeiro e moral. A ideia
fundadora do Polis era muito simples:
alimentar a máquina das obras
públicas que tinha sido engendrada
por volta de 1993/1994 para a Expo
de Lisboa. Não é por acaso que coube
à própria Parque Expo, finda a festa,
a gestão centralizada dos diferentes
Polis. Era necessário nutrir a insaciável
fornalha do despesismo. Sem
olhar a meios. A mama, pensava-se
na altura, era grande e dava para todos.
As dívidas contraídas, dizia-se,
não eram para pagar, eram para ser
geridas. E assim se formaram empresas
diferenciadas em todas as zonas
de intervenção Polis. Com os devidos
conselhos de administração, assessorias
e demais cortesias. Entidades
onde a incompetência, os interesses
pessoais e as negociatas duvidosas
grassavam com despudor. Do mal
o menos, dirá a esta distância o amável
leitor. Desde que as coisas tenham
ficado bem-feitas e as cidades melhoradas
na sua atratividade e competitividade
urbana… Pois aí é que está.
O Polis não apenas desvirtuou o coração
das cidades, uniformizando-
-as a poder de lajedos de fraco calibre,
roubando-lhes o seu cunho próprio e
diferenciador, como fez aninhar nos
centros históricos projetos de inquestionável
mau-gosto, desgarrados, sem
articulação entre si e implementados
com recurso a materiais débeis, perecíveis
e sem dignidade, embora grandes,
no que toca à fatura. Os exemplos
da desdita do Polis são tantos e a sua
geografia tão vasta que seria penoso
enumerá-los. Mas podemos olhar
para Beja. Para os crimes de lesa-património
que foram cometidos na
praça da República, no largo de Santo
Amaro, no jardim do Bacalhau ou na
avenida Miguel Fernandes. O Polis
tolheu a cidade bem no seu âmago.
Feriu-a no seu íntimo. E não se pode
dizer que tenha sido apenas uma
oportunidade perdida. Não, são três
oportunidades perdidas. Primeiro,
a destruição irreparável do bom que
estava feito. Depois, a implementação
de verdadeiros tumores urbanos.
Por fim, e para lá caminhamos, a necessária
e onerosa remoção desses inchaços
malignos. Em Albufeira, no
último fim de semana, revoltando-
-se contra as asneiras ali cometidas, a
natureza deu uma ajuda. Esperemos
que os gestores e empreiteiros do
Polis Albufeira se cheguem à frente…
para pagar a fatura.

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