sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Diário do Alentejo Edição 1759

Editorial
Belém
Paulo Barriga

Já tentei ver um debate a
dois ou a todos entre os
candidatos à Presidência
da República. Não consegui. São
momentos tortuosos e de difícil
ruminação. O assustador é que o
andor ainda vai no adro. Parece
que estão agendados mais de
vinte encontros televisivos entre
proponentes a Belém. Mas o
que se prevê são duas dezenas de
sessões de tortura com requintes
medievais. É dose. Em quarenta
e tal anos de eleições livres
em Portugal, esta que se
avizinha tem tudo para bater recordes
no que toca ao desinteresse
e ao aborrecimento. A começar
pela própria “figura” do
Presidente da República. Uma
personalidade/instituição que
joga na segunda divisão do campeonato
do aparelho do Estado.
Sem graça, nem chama. Que dizem
possuir uma bomba atómica,
mas que nem um estalinho
de Carnaval ousa rebentar.
A nossa história recente diz-nos
que o Presidente da República é
como aqueles rapazes que são os
donos da bola mas que, por imperícia
e desengonço, ou ficam
no banco ou passam ao lado do
jogo. Neste particular, o último
Presidente da República foi e
ainda continua a ser um verdadeiro
mestre da pateirice. Basta
relembrar as sucessivas fífias
que cometeu durante a última
jogatana para formar governo.
O povo ainda continua embaçado,
mas não são as rabanadas
do Natal, nem o espumante
rasca do ano novo que lhe provocam
azia: são os excessos da
política. É muita e muito má política
em tão pouco tempo. Uma
overdose que, também ela, está
a contribuir para o penadoiro
que está a ser esta pré-campanha
plasmada em debates televisivos.
Isto para nem falar,
obviamente, dos candidatos à
coisa. Dez. Duas mãos-cheias.
É a democracia a funcionar no
seu pleno, dirão os otimistas
do regime. Embora na maior
parte dos caos mais pareça que
é o oportunismo mediático que
está a funcionar em pleno. Deste
grupo ainda não sobreveio uma
ideia, uma luz, uma piada de
jeito, sequer. Não é que grandes
ideias, luminosas e giras,
possam surgir numa campanha
para um cargo que é cada mais
figurativo e cada vez menos fundamental.
Infelizmente. Cujas
principais tarefas são mandar
pintar um retrato para colocar
na parede da sala e enfiar colares
em pescoços de amigos. Até
ver, nesta desengonçada corrida
para Belém, cujo significado bíblico
é “casa do pão”, todos se
perfilam para mandar, mas nenhum
parece ter razão.

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