quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Diário do Alentejo Edição 1762

Editorial
Lebrinha
Paulo Barriga

Em Portugal, marcas como
“Cervejaria Lebrinha” haverá
poucas. E no Alentejo,
por muitas voltas que dê à cachola,
não encontro outra que se
lhe compare em pujança, eficiência,
reconhecimento. A eficácia
da marca ganhou tal dimensão
e notoriedade que “Lebrinha”
chegou a ser a única forma de nos
referirmos a Serpa, sem ter a necessidade
de dizer Serpa. O mais
curioso é que por detrás do segredo
desta marca de leitura geral
e imediata está um produto
que pouco tem a ver com Serpa ou
com o Alentejo: cerveja à pressão.
É verdade. Durante anos se apurou
nas catacumbas do Lebrinha
a “receita” de uma imperial que,
segundo os especialistas encartados
e todo o tipo de empiristas,
era imbatível. A melhor do
País, atestavam os diplomas que
estavam dependurados nas paredes
da cervejaria. Estava fechado
a sete chaves, o tratamento cabalístico
que levava a imperial do
Lebrinha. Era um dos mais reservados
e enigmáticos segredos
da indústria da restauração e similares
de Portugal. Um milagre
da multiplicação do gás a brotar
do fundo de um copo de cerveja.
O queijo tipo Serpa é famoso, as
queijadinhas de requeijão da senhora
Paixão também o são, são
muito apreciados aqueles cantares
à maneira de Serpa e as festas
da Senhora de Guadalupe, igualmente.
Mas Serpa, na viragem
do século XX para o século XXI,
não teve embaixador nem propaganda
externa que chegasse sequer
aos calcanhares da imperial
do Lebrinha. Ainda hoje, na
Internet, existem fóruns de debate
em torno daquele borbulhar
milagroso: ou era dos copos especiais
e mal lavados, ou era do
comprimento do cabo que leva a
cerveja do barril até à torneira, ou
era da pressão… Talvez fosse da
pressão. Mas não da mesma pressão
que levou à falência, dizem-me
que há pouco tempo, a Cervejaria
Lebrinha, esse ícone aloirado de
Serpa e do Alentejo. Reconheça-se
que os tempos mudaram. Que a
tecnologia democratizou a boa
imperial. Que nem só de cerveja
de manivela vive o homem. Que
quem vai a Serpa também o faz por
um bom petisco que encontrará
com facilidade no Manel Gato, no
Alentejano, no Chico Engrola, no
Molhó Bico, no Pedra de Sal, na
Tradição e em quase todas as tascas
e restaurantes de Serpa que tenham
um fogão escondido por detrás
do balcão. Coisa que faltava
exatamente ao Lebrinha nos últimos
anos. Não sei se alguém ou alguma
instituição ainda pode fazer
alguma coisa pelo Lebrinha.
Se nada se fizer é certo que não se
perde tudo, mas perde-se a oura
maneira de dizer Serpa, sem falar
em Serpa. O que é muito, não é?

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