sábado, 27 de fevereiro de 2016

Diário do Alentejo Edição 1766

Editorial
Esfoladores
Paulo Barriga

Há muitas maneiras de matar
um coelho. Mas é bom não
perder de vista que o objetivo
é mesmo matar o coelho. Da mesma
forma que há muitas maneiras de esfolar
um país. Embora seja bom perceber
quem o esfola, quem afia as navalhas
e quem para si reclama a carcaça.
A esse nível, ao nível do esfolamento, e
no que toca ao distrito de Beja, parece
não existir grandes dúvidas. De forma
repetida, continuada e impúdica, a região
tem sido escalpada pelos sucessivos
governos da Nação. Por todos. Sem
exceção. Ressalvando um ou outro
descuido circunstancial, como aquele
que levou aos levantamentos do paredão
do Alqueva ou do casão de São
Brissos, o distrito de Beja (o mesmo
acontece noutros distritos do interior
sem peso eleitoral como Portalegre ou
Bragança) tem sido desprezado pelo
“poder central”. Aliás, é nesta aceitação
de “poder” que acaba por residir a
ruína das regiões interiores e, em consequência,
a falência do próprio País.
A centralização do poder político em
Lisboa e a resultante litoralização do
tecido económico e social fragmentou
o território em dois. De forma, dirão
no Terreiro do Paço, irrevogável. A
este respeito, o presente governo não é
melhor nem pior do que os anteriores.
É igualzinho, quando se esperava que
fosse um nadinha diferente. Mas não,
foi apenas mais rápido que os seus antecessores
a mostrar ao que vinha: a
regionalização do poder político, que
é um importe constitucional, foi varrida
para debaixo do tapete. E a valorização
da economia e da sociedade
no interior foi remetida para depois de
2020, assim queira Deus. E estas são
decisões políticas de regime. São vetores
fundamentais de governação. São
fundamentos governativos que nos
atingem direta e fortemente. São resoluções
que deixam em muito maus
lençóis os novos parceiros políticos do
PS, de quem, aliás, a nível local, ainda
não se escutou um ai. Sequer. Mas,
acima de tudo, são medidas que roçam
o punitivo e que deixam num fanico o
deputado socialista eleito por Beja.
A quem, para salvar a cara e a honra,
poderia restar uma de duas alternativas,
e nenhuma delas se verificou: ou
abdicava naquele instante ou votava
isoladamente contra o Orçamento do
Estado. Da sua parte, qualquer outra
atitude fará tanto sentido, merecerá
tanta reverência e terá tanta dignidade
quanto o comunicado que a distrital
de Beja do PSD endereçou esta
semana aos jornalistas, lamentado o
“ataque despudorado” do PS ao Baixo
Alentejo. Repita-se e sublinhe-se e
inscreva-se com o merecido destaque
no anedotário alentejano: o PSD acha
“absolutamente vergonhoso” o que o
PS está a fazer ao distrito de Beja. O
líder local do PSD acha mesmo isso?
Ou sofrerá de perdas seletivas de memória?
Em relação ao Baixo Alentejo
a grande diferença entre o PS e o PSD,
quando metidos no Governo, é que
quando um imagina matar, já o outro
está a esfolar.

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