sábado, 9 de abril de 2016

Diário do Alentejo Edição 1772

Editorial
 Enxadas 

Paulo Barriga

Há uma palavra que veste
que nem uma luva na relação
entre o Partido
Comunista Português e o Partido
Socialista: desconfiança. Não é
para menos. A história da democracia
portuguesa explica isso em
meia-dúzia de episódios emblemáticos.
Desde o 1 de Março ao 25 de
Novembro. Desde o Verão Quente
às Presidenciais de 1986. Desde o
1.º de Maio à Fonte Luminosa. A
convivência entre os dois partidos
nunca foi pera doce e a convergência
entre si ainda menos o tem
sido. Daí que o pacto de governação
que segura o atual executivo
seja visto, por um lado, como uma
cana verde que pode vergar a qualquer
instante. Ou, por outro, como
uma verdadeira primavera que saltita
sobre as esquerdas de Portugal.
Numa primeira leitura, o entendimento
real, desanuviado, entre o
PCP e o PS ao nível do Governo da
Nação só poderá trazer benefícios
para o Alentejo. Num território em
que a quase totalidade dos municípios
pende para o lado destas duas
entidades partidárias, não se poderá
aguardar outra coisa. Mas será
que é assim? Será que a aliança,
há alguns anos atrás inimaginável,
entre socialistas e comunistas
portugueses, ao ponto de viabilizar
um governo PS totalmente
à esquerda, também se faz sentir
para cá do Tejo? Será que crispação
que se tem vindo a atenuar ao
nível das cúpulas também míngua
junto das bases, nomeadamente no
Sul de Portugal? A resposta a estas
questões parece ser negativa,
pelo menos se se validar para análise
o universo dos participantes do
Congresso AMAlentejo, que decorreu
em Troia, no passado sábado. A
ideia que presidiu à reunião é boa
e interessa, pelo menos a nível regional,
a ambos os partidos: tratar
de implementar o terceiro pilar do
poder local, as regiões administrativas.
Mas a desconfiança do costume
levou o PS do Baixo Alentejo
a achar que o PCP lhe estava a passar
a perna. E que o melhor era nem
aparecer em Troia. Assim aconteceu.
Este, que era suposto ser
um amplo congresso sobre a administração
futura dos destinos
do Alentejo, acabou por acontecer
com excessiva ausência do PS.
O que permitiu uma excessiva presença
do PCP. Resultando deste desequilíbrio
uma, mais uma, excessiva
perda para o Alentejo e para os
seus habitantes. Há outro momento
político e social que define na perfeição
a desconfiança histórica entre
estes dois partidos: o processo
de Reforma e de Contra-Reforma
Agrária. Estamos em 2016, ano excelso
das convergências à esquerda
em Portugal. Mas o PS e o PCP do
Alentejo continuam a discutir se
as enxadas devem permanecer na
posse de cada um ou se devem ser
partilhadas. Assim, mais vale uma
mão inchada…

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