quinta-feira, 21 de abril de 2016

Diário do Alentejo Edição 1774

Editorial
Um caso
Paulo Barriga

É, para não dizer outra
coisa, muito esquisito imaginar
a Ovibeja, excluindo
de tal pensamento a figura de
Manuel Castro e Brito. Não esteve
sozinho nesta caminha de
trinta e tal anos, mas não deixou
de ser ele, e penso que isto é consensual,
o principal instigador, o
grande mentor, deste fenómeno
altamente bizarro que é a Ovibeja.
Por isso mesmo é tão difícil desfazer
o binómio Ovibeja/Castro e
Brito, sem temer pela primeira e
sem recordar com nostalgia o segundo.
Este é o tempo do elogio
generalizado ao Manuel Castro e
Brito e de ovação à sua obra. Mas
este também deverá ser o tempo
de parar para pensar sobre o homem
e sobre a sua criação, para
garantir que ela, a criação, possa
sobreviver ao seu criador. Hoje
em dia as pessoas olham para a
Ovibeja como uma feira banal,
igual a tantas outras que acontecem
por esse país fora. É verdade.
Mas o que a maioria das pessoas
talvez não saiba é que as feiras que
por aí existem são cópias, mais ou
menos fiéis, da Ovibeja, cujo modelo
tem sido abundantemente replicado
desde meados de 1980.
Mas se o modelo da feira, que está
bem à vista de todos e que hoje já
não guarda grandes segredos, tem
sido reproduzido com eficácia, o
mesmo não acontece no que respeita
ao sucesso e à visibilidade
que cada evento, por si, consegue
granjear. Neste ponto, a Ovibeja
é inimitável. Imbatível. E é precisamente
e também aqui que entra
o dedinho de Castro e Brito. Que,
desde a primeira hora, percebeu
que o êxito de uma feira, qualquer
que fosse a sua temática ou
motivo, passava de forma inevitável
pela sua eficiência comunicativa.
Muito antes de as agências de
comunicação e imagem começaram
a fazer dinheiro em Portugal,
já a Ovibeja trabalhava ao pormenor
a sua marca, produzia publicações
próprias, campanhas publicitárias,
instituía gabinetes de
imprensa que eram verdadeiras
escolas de jornalismo e enchia autocarros
com repórteres das publicações
de Lisboa que se juntavam
na feira, ou na festa, aos profissionais
dos órgãos de comunicação
locais. A Ovibeja foi, durante
muitos anos, dos acontecimentos
neste país com mais jornalistas
por metro quadrado, dos eventos
mais mediatizados e, por consequência,
aquele que os políticos
pátrios e os demais emplastros
de serviço jamais dispensaram.
A Ovibeja, pelas mãos de Castro
e Brito, obteve um alcance mediático
incomparável, o que faz dela,
inquestionavelmente, um “caso de
estudo” no campo dos media. Um
caso singular e valioso que é necessário
estudar a fundo para que
quem vier de novo não se esqueça
do fundamental da matéria.

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