sexta-feira, 29 de abril de 2016

Diário do Alentejo Edição 1775


Editorial

Costistão

Paulo Barriga 

Não restam dúvidas que António Costa é um político completo. Humilde nas cedências, mas imodesto no momento das colheitas. Calculista e pragmático como poucos, embora suficientemente delicodoce no trato. Perspicaz, ainda que não contemplativo. Enfim, o atual primeiro-ministro de Portugal, quer pela forma como chegou, quer pela maneira como se vai aguentando, tem-se revelado um verdeiro todo-o-terreno, capaz de descer à mais ingreme das escarpas e de superar os penedos mais inóspitos da política pátria. António Costa dá o corpo ao manifesto, é um duro, mas não deixa de ser um menino de coro à beira de Marcelo. Costa consegue fazer milagres à esquerda, mas é o Professor que abre os telejornais. Costa inverte o ciclo da austeridade, mas é com o Presidente que o pessoal pretende tirar a selfie. Costa carrega o piano às costas, mas é Marcelo que toca a marcha. E a música é sempre a mesma, inclusivamente no Alentejo, região que, nos tempos que correm, bem podia levar o epíteto de “costistão”. É que nunca, em nenhuma outra votação para a Assembleia da República, uma coligação parlamentar obteve tamanha vitória nas urnas, como esta que Costa conseguiu nas eleições do ano passado. Mais de 76 por cento dos eleitores de Beja, Évora, Portalegre e Setúbal que votaram em outubro último, fizeram-no nos partidos que suportam o Governo, o que é inaudito em Portugal. E o mais curioso, depois de observar os investimentos que o executivo tem planificados até 2020 para o País e para o Alentejo, é que parece que Costa ainda não se deu conta desse “pequeno” detalhe. Mas se Costa ainda não reparou que existe um “costistão”, Marcelo mancou-o ao longe. Vai daí, na sua primeira presidência fora de Portas, rumou ao Alentejo, a região que lhe foi eleitoralmente mais adversa, e deu um banho de política a Costa. Ao ponto de tudo o que de positivo este Governo vier a fazer pelo Alentejo se ficar a dever aos pinotes de Marcelo, ao ponto de tudo o que Costa deixar de fazer pelo Alentejo lhe poder vir a ficar marcado no cadastro como um ferrete em brasa. Como é o exemplo acabado da eletrificação da ferrovia entre Casa Branca e Beja, ligação hoje servida por uma automotora inqualificável que Marcelo quis mostrar e mostrou a Costa, num gesto que fez mais pelo futuro dos comboios na capital do Baixo Alentejo do que todas as berrarias que até aqui se tinham ouvido. António Costa é um duro, mas ainda não suficientemente duro para apanhar o comboio de Marcelo.

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