sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Diário do Alentejo Edição 1804

Editorial
Bolha
Paulo Barriga

Em linha de crescimento, tal
como acontece no resto do
País, mas não com tanta vitalidade,
tal como acontece em Lisboa
e no Porto, o mercado do imobiliário
começa a reemitir sinais de vitalidade
no Alentejo. É sempre assinalável,
ou de assinalar, algum incremento
nos negócios em todo e qualquer setor
da economia, principalmente
numa região onde essa economia é
pouco sustentada e quase nada variada,
dependendo em grande parte
de um comércio de consumo primário,
que é alimentado pelo funcionalismo
público e pelos serviços em geral.
A agricultura, pelo menos o ramo
transformador, que é aquele que gera
emprego, que produz valor e que, necessariamente,
mete dinheiro na economia,
ainda não propicia grandes
sorrisos. Por outro lado, embora se notem
maiores fluxos, ainda não há turismo
em quantidade para se assinalar
um crescimento em desmedida escala
do setor hoteleiro. Obras públicas
não se veem. No entanto, o mercado
do imobiliário começa a arrebitar.
Novamente. O que é, já se disse, uma
notícia entusiasmante. E preocupante,
ao mesmo tempo. Não é de esquecer
que foram os mercados especulativos,
o financeiro/bancário e o imobiliário,
juntos, que provocaram o terramoto
sobre a economia mundial, há coisa
de uma década atrás. As ondas de choque
desse abalo e as sucessivas réplicas
ainda hoje se fazem sentir, em concreto
nas economias estruturalmente
mais débeis, como é o caso da portuguesa.
Posto isto, importa saber quem
é que está a alimentar o novo disparo
do imobiliário, com que dinheiro e de
que forma. Segundo a Associação dos
Profissionais e Empresas de Mediação
Imobiliária em Portugal, a retoma no
Alentejo está a ser feita de duas maneiras.
Por um lado, através de investidores
estrangeiros que querem ter uma
segunda habitação em regiões de sossego
ou que espreitam negócios ao nível
do turismo residencial. Por outro
lado, e em simultâneo, verifica-se um
acréscimo na transação de alojamentos
familiares. O que não deixa de levantar
algumas dúvidas, em especial
depois de tudo o que a “crise do subprime”
originou e de onde, pelos vistos,
não se estão a retirar as devidas
lições. É certo que os bancos, aos poucos,
por uma questão de sobrevivência,
estão a aligeirar os créditos à habitação.
Não apenas com o intuito de gerar
fluxos financeiros que equilibrem
as suas próprias contas, mas também
para “despachar” os milhares de casas
de habitação que lhes foram “devolvidas”
em processos de incumprimento
no pico da crise. A construção civil na
região está parada, os imóveis que estão
a ser transacionadas para venda,
e raramente para arrendamento, não
são novos e, em boa parte, são pertença
dos próprios avaliadores e financiadores,
os bancos. E como, pelo que se vê e
sabe, não há mais dinheiro na economia
do que havia no verão de 2007…
Não tarda, rebenta a bolha. Outra vez.

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