sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Diário do Alentejo Edição 1805

Editorial
Encruzilhada
Paulo Barriga

Por estes dias passam dois
anos sobre a inclusão do
cante na galeria dos patrimónios
imateriais relevantes para
a Unesco. E lá para o final da semana
que vem corre o primeiro
aniversário sobre o reconhecimento
internacional do fabrico de
chocalhos como uma arte a necessitar
de salvaguarda urgente. Isto
para nem falar das variadíssimas
expressões “identitárias” que diferentes
municípios do Alentejo,
com toda a legitimidade, pretendem
mostrar ao comité de cientistas
do património imaterial.
A mais recente será o fabrico artesanal
do vinho de talha, numa
candidatura conjunta das autarquias
de Aljustrel, Cuba, Moura e
Vidigueira. Esta é a matéria noticiosa
que damos hoje em grande
destaque no “DA”. Embora na última
semana tenha corrido uma
outra notícia que, infelizmente,
este jornal não traz, ainda: a putativa
instalação em Portugal de uma
mega unidade industrial da Tesla
Motors, que é um fabricante norte-
-americano de baterias e de carros
elétricos. O periódico galego “Faro
de Vigo” dava como forte a possibilidade
deste investimento vir a
acontecer na Península Ibérica,
graças à “quantidade de horas de
sol anuais” que por cá acontecem.
A Tesla utiliza o telhado das suas
unidades fabris para instalar centrais
fotovoltaicas. Daí a suposta
preferência dos investidores por
este canto ocidental para assentar
arraiais na Europa. Embora de cariz
internacional, a notícia não deixou
de fazer furor nas redes sociais,
principalmente nas contas de
utilizadores com ligações ao Baixo
Alentejo e a Beja, mais em concreto.
Bem negociadas as coisas,
bem oleados os canais diplomáticos,
comentou-se, à Tesla poderia
ser oferecida a oportunidade de se
instalar, com assinaláveis vantagens,
no parque industrial que em
projeto está afetado ao aeroporto
de Beja. Embora não passe de uma
simples conjetura, como tantas outras
passadas e outras que virão, o
“caso Tesla” não deixa de ser interessante
para assinalar a perfeita
encruzilhada que se perspetiva
para o futuro desta região do País.
A urgência de desenvolvimento
económico e social clama pela industrialização.
Embora tenha sido
precisamente a ausência continuada
dessa mesma industrialização
que deixou o território, a sua cultura,
as suas tradições, a sua identidade,
o seu ambiente, o seu património
construído, neste estado
“pré-industrial” que tanto nos orgulha
e que tanto sucesso tem obtido
junto da Unesco. Costuma dizer-
se que é impossível arrecadar,
ao mesmo tempo, o melhor dos
dois mundos. Mas inverter essa fatalidade
será, sem dúvida, o grande
desafio do Alentejo para os tempos
mais próximos.

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