sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Diário do Alentejo Edição 1809


Editorial
Rabanadas
Paulo Barriga

“Antes assim do que
para pior”. Esta não é
a mensagem de Natal
do “Diário da Alentejo”, da direção
do jornal, da equipa redatorial,
dos seus colaboradores.
Não, bem sabemos que a resignação
é um dos apanágios do nosso
povo. Mas a nós, enquanto artífices
do jornal com maior expressão
nesta região, não nos compete
baixar os braços, deixar correr
as coisas, desistir. “Saúde, sorte e
pão na arca” não nos chega. Para
a nossa região, para os nossos leitores,
para os nossos assinantes,
para os nossos anunciantes queremos
tudo isso e desejamos muito
mais do que isso tudo. Queremos
e desejamos aquilo a que temos
direito e também aquilo que nos
tem sido negado ao longo de décadas.
Quando aqui, nestas páginas,
repetida e exaustivamente,
reforçamos esta ideia de que nos
estão sempre a fazer embarcar na
carruagem da terceira classe, não
o fazemos por pieguice, nem por
embirração. Fazemo-lo com convicção,
acreditando que pertencemos
à mais bela e preciosa região
deste País, que apenas não
segue no vagão da frente porque
o abandono a que tem sido votada
o impede. E não, isto não é uma
questão de cores, de clubes, de
tendências. É uma questão de regime.
Ou de regimes. Com a arma
da fome, no “outro tempo”, esvaziou-
se um terço do território nacional.
Depois de Abril, as coisas
mudaram. E muito. Mas nunca
nos “novos tempos”, em verdade,
se quis inverter algo a que
em Lisboa chamam “fatalidade”,
mas que na pele, por cá, sentimos
como “indiferença”. Continuamos
a ser poucos, valemos poucos votos
e dificilmente nos safaremos
enquanto não formos nós a decidir
o nosso próprio futuro. O
Alentejo está condenado ao sucesso
e isso é algo que está a irritar
muita gente. O Alqueva está a
desequilibrar para o nosso lado a
balança comercial agrícola. Sines
já não é apenas o maior porto de
comércio português, é um dos
maiores da Europa. As reservas
de minerais no pedaço nacional
da faixa piritosa deixa-nos de descanso
para as próximas décadas.
De anedota, a indústria aeronáutica
passou a caso sério. Tudo isto
mantendo uma região ecológica
e culturalmente salvaguardada,
com diferentes bens inscritos na
Unesco e outros a caminho disso
e onde o turismo de qualidade,
sustentado, é reconhecido e recomendado
nas sete paragens do
mundo. Podem muito bem continuar
a tentar adiar o inevitável
mas, algum dia, teremos no sapatinho
tudo aquilo a que temos
direito e também aquilo que nos
tem sido negado. E isto é tão certo
como o bacalhau e as rabanadas
na Consoada.

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