sábado, 17 de dezembro de 2016

Diário do Alentejo nº 1808


Editorial
Ho-ho-ho-ho
Paulo Barriga

Há coisa de duas semanas estiveram
em Beja dois ministros
para mostrar às
instituições locais as virtudes do
Programa Nacional para a Coesão
Territorial. Um deles, o da Saúde,
de forma complementar ou marginal,
aproveitou a deixa para se reunir
com o conselho de administração
da unidade local de saúde e para
visitar alguma coisa do que dela,
da saúde, ainda resta em Beja. Não
se sabe como a terá arranjado, mas
Adalberto Campos Fernandes veio
cá a baixo com a saca do pai Natal às
costas. Chegou, sorriu e distribuiu
presentes em barda. Ele foram novos
centros de saúde para Ourique e
Vidigueira, ele foi a remodelação do
Centro de Saúde de Mértola, ele foi
a substituição dos equipamentos de
imagiologia do hospital e, surpresa
das surpresas, ele foi a compra de um
equipamento de ressonância magnética
novinho em folha. Tudo isto
para que não restem dúvidas de que
a construção de raiz de um hospital
central em Évora não prejudicará,
antes pelo contrário, a prestação dos
cuidados de saúde no Alentejo mais a
sul, como facilmente se comprovará
com tão generosa dádiva natalícia.
Mas diz o povo, e com a razão a que
o presente caso obriga, que quando
a esmola é muita o pobre desconfia.
Com ou sem novo hospital em Évora,
a construção das unidades de saúde
em Vidigueira e Ourique, prometidas
há décadas, algum dia teriam de
avançar. Tanto mais que estamos a
falar em concelhos onde o índice de
sinistralidade rodoviária é elevadíssimo
e onde só por desmazelo ou por
pura embirração não existem centros
de saúde. Já o centro de saúde de
Mértola teria duas soluções: Ou reerguer
ou deixar cair por terra. Que
foi o que há muito aconteceu com o
serviço de imagiologia do hospital
de Beja, onde TAC e RX rimam mais
facilmente com negócios cá fora do
que com soluções lá dentro. Ou seja,
até agora estamos a falar em investimentos
de urgência, alguns dos
quais com projetos adiantados e com
concursos de adjudicação em marcha.
Coisas necessárias, importantes,
devidas às populações, mas nada
de encher o olho, por conseguinte.
Restou então no saco do senhor ministro
uma máquina de ressonância
magnética para pôr no sapatinho do
hospital de Beja, como contrapartida
pelo novo hospital central de Évora e
como sedativo para superar o desânimo
em que os utentes e os profissionais
de saúde da região poderão
estar mergulhados, face ao abandono
de um verdadeiro plano para a
saúde do Alentejo, polinucleado, de
proximidade, equitativo e equidistante,
democrático, diversamente especializado
e verdadeiramente humanizado.
Não, Beja, que era a única
capital do País que não dispunha de
ressonância magnética, passará a têla.
Como prenda. Envenenada, mas
como prenda. Ho-ho-ho-ho!!!

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