sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Diário do Alentejo edição 1806

Editorial
Amigos,
amigos…
Paulo Barriga

O Governo prevê lançar
em 2017 o concurso para
a construção do novo
Hospital Central de Évora. Segundo
o presidente da câmara local, o investimento
deverá rondar os 170
milhões de euros. A ideia não é de
hoje. Foi em 2010, em pleno consolado
José Sócrates, que o lobby do
PS decidiu encomendar o projeto a
um consórcio liderado pelo arquiteto
Souto Moura. Coisa à grande
e à francesa, pois como não. Mais
de 70 mil metros quadrados de
área bruta, 170 mil metros quadrados
de espaços verdes, oito módulos
independentes embora interligados
entre si, uma sobranceira
torre de nove andares, mais de 1
600 lugares para parquear carros
sem ser em segunda fila. Et voilá: o
futuro da saúde para o Alentejo segundo
José Sócrates. Que é exatamente
o mesmo que dizer: a saúde
para o Alentejo segundo António
Costa. Quanto ao resto, tudo na
mesma. Formam-se médicos a
mais em Portugal, mas é raríssimo
encontrar um que se queira fixar,
por exemplo, em Beja. Cidade, região,
que tem um hospital onde
há já carências em quase uma dezena
de especialidades e onde muitas
outras deveriam existir e não
estão presentes (isto para nem falar
na medicina geral e familiar).
Num hospital onde os equipamentos
de diagnóstico, nomeadamente
na área da imagiologia, remontam
à pré-história. Num hospital
que já foi a joia da coroa dos serviços
de saúde em áreas periféricas,
mas que está plantado no meio de
um distrito que é o único do País
onde não se realizam ressonâncias
magnéticas. E é sobre este estado
de pré-falência ou de mendicidade
que o abastado Governo do PS, encoberto
por um manto de silêncio
ensurdecedor tecido pelos partidos
que parlamentarmente o viabilizam,
anuncia um novo Hospital
Central em Évora, comme il faut.
Para que fique bem claro, a partir
daqui, embora não leve aspas, o raciocínio
pertence ao bastonário da
Ordem dos Médicos e não a um
qualquer fundamentalista ou obcecado
propagandista pelo Baixo
Alentejo: Porquê em Évora? Existe
algum estudo técnico que o justifique?
Um novo hospital em Évora
implica que nos próximos 50 anos
não haja qualquer investimento relevante
na saúde em Beja. A haver
necessidade, fará todo o sentido
que esse equipamento se situe
em Beja, uma vez que Évora está a
apenas uma hora de Lisboa e na esfera
de intervenção dos hospitais
da capital. Esta é uma decisão puramente
política, tomada sem recorrer
a estudos que a sustentem
e que foi tomada para agradar a
quem mais poder regional detém e
a quem mais amigos influentes no
Governo possui.

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