sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Diário do Alentejo Edição 1814

Editorial
Ilusionismos
Paulo Barriga

É difícil a qualquer utente
do comboio, que compre
bilhete entre Beja e Casa
Branca, não ficar assanhado com
tudo o que envolve o próprio
comboio. A começar pela constatação
de que comprou bilhete
para o comboio mas que, afinal
de contas, não há comboio nenhum.
Há um veículo automotorizado
que circula, quando está
em condições de circular, pelos
mesmos carris onde poderia
circular o comboio para o qual
comprou bilhete mas que, bem
vistas as coisas, não existe. De
facto. Não existe o comboio, nem
existe a menor pinga de dignidade
naquilo que é oferecido pela
empresa dos comboios em troca
do dinheiro do bilhete do comboio
que não existe. Aliás, a CP
- Comboios de Portugal, na relação
que estabelece com os utentes
que compram bilhete entre
Beja e Casa Branca, revela não
ser exatamente uma empresa de
prestação de serviços de transporte,
mas antes um circo que
funciona apenas com palhaços
e ilusionistas. Sendo que os palhaços,
os utentes que compram
o bilhete de comboio entre Beja
e Casa Branca, já não riem nem
fazem rir, e os ilusionistas, invariavelmente
vestidos de cinzento,
cada vez têm mais dificuldades
em transformar a lata
com rodas de ferro no comboio
rápido Intercidades que é anunciado
no bilhete dos utentes que
o compram em qualquer estação
entre Beja e Casa Branca. A ilusão
da automotora nunca funcionou.
E, repetida à exaustão,
apenas acentua a tristeza do espetáculo
que continua a ser vendido
com letras douradas nas bilheteiras
do comboio entre Beja e
Casa Branca. Na passada terça-
-feira, 24, o “Jornal de Notícias”
oferecia a quem o comprou a seguinte
manchete: “Quatro autoestradas
fazem disparar custos
com as PPP”. Por assinalável
falta de assunto, as televisões, todas
elas, replicaram a notícia, assegurando
que as concessões das
autoestradas do Douro Interior,
Transmontana, Litoral Oeste
e Baixo Alentejo vão sugar em
2017 perto de 203 milhões de euros
aos cofres do Estado, em virtude
de quatro ruinosas parcerias
público-privadas. Caído em
desuso e tapado de ridículo, há
muito que o truque da autoestrada
não saía da cartola. A autoestrada
do Baixo Alentejo apenas
está a dar cabo das contas públicas
porque o Governo ainda lá
não mandou colocar portagens.
Ou melhor, porque ainda nem sequer
foi construída. Daí o belo e
surpreendente momento de ilusionismo
que a autoestrada voltou
a proporcionar. Nem dá para
acreditar, pois não?

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