sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Diário do Alentejo Edição nº 1818

Editorial
Carne e osso
Paulo Barriga


Por não ter sido assim há
tanto tempo quanto isso,
lembro-me como se hoje
mesmo fosse. A 5 de dezembro, o
Governo pátrio, de uma penada,
mandou a Beja dois ministros de
carne e osso para relembrar aos
indígenas que estes, os indígenas,
e as suas terras nunca seriam esquecidos
pelo presente executivo
governamental. Prova de tão sentido
envolvimento e de tão abnegado
compromisso estava na leitura,
em primeira mão, de um
Programa Nacional para a Coesão
Territorial que havia sido redigido
com base nas auscultações feitas
durante os seis meses anteriores
por uma Unidade de Missão para
a Valorização do Interior. “Coesão
territorial” e “valorização do interior”.
Numa região onde a vara
da demografia já não pode dobrar
mais se não quebra e onde os índices
de desenvolvimento estão mais
em sintonia com África do que
propriamente com a Europa, ministros
(no plural) a falarem com
despudor em “coesão territorial”
e em “valorização do interior” foi
obra. Mas quando os trolhas de
serviço à talocha dos ministérios
começaram a jogar a massa à parede,
depressa se percebeu que a
obra era macaca. Tão macaca ou
tão pouco que nenhuma das iniciativas
setoriais desenvolvidas
ao abrigo deste plano salvador do
interior contemplou, até hoje, o
Baixo Alentejo. Nenhuma e o que
é zero, é mesmo zero. Ainda nos
últimos dias veio a público uma
notícia proveniente do Ministério
do Planeamento e Infraestruturas,
com direito a mapa e tudo, onde
o responsável da dita pasta fazia
anúncio de 102 milhões de euros
(capazes de gerar 180 milhões)
para investimentos em acessos e
melhorias nos parques de negócios,
parques industriais ou parques
empresariais, como se lhes
queira chamar. A este respeito
disse o ministro o seguinte: “É
um investimento muito objetivado
e focado, de proximidade
e de fomento da coesão territorial”.
A este respeito não disse o
ministro o seguinte: apenas uma
das 12 intervenções previstas no
Programa de Valorização das
Áreas Empresariais está localizada
a Sul do Tejo (melhoria de
acessibilidades à zona industrial
de Campo Maior). Todos os parques
empresarias na área de influência
de Alqueva foram, uma
vez mais, esquecidos assim como
preterido foi o parque de indústrias
afeto ao aeroporto de Beja.
Bem sei que começa a ser aborrecido
estar sempre a bater no ceguinho,
mas por não ter sido assim
há tanto tempo quanto isso, ainda
me lembro como se hoje mesmo
fosse que vieram a Beja dois ministros
de carne osso (dois) pregar
sobre a valorização do interior.

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