sexta-feira, 10 de março de 2017

Diário do Alentejo Edição 1820

Editorial
Bestiais
Paulo Barriga

O cantor bejense Jorge Benvinda
terminou em quarto lugar a sua
participação na fase de apuramento
da canção portuguesa a apresentar
ao Festival da Eurovisão da Canção,
que este ano vai decorrer na Ucrânia.
Nuno Figueiredo, que com Benvinda faz
dupla na banda Virgem Suta, compôs o
tema e escreveu aquela que foi a mais iluminada
e, ao mesmo tempo, a mais desempoeirada
das letras que foram dadas
a escutar ao bom povo. “Gente bestial”
é um retrato leve, embora alegremente
perfeito, deste país e da fauna que nele
habita. Pelo que, sem desprimor para as
restantes canções finalistas, ou pelo menos
para um par delas, poderia muito
bem ter ido dar uma volta a Kiev. Jorge
Benvinda também mostrou (como se tal
fosse necessário…) que é um dos grandes
cantores portugueses da atualidade.
O seu timbre inconfundível, que sobrevive
ao mesmo tempo a uma açorda de
coentros e à filmografia completa de
Emir Kusturica, é qualquer coisa de revitalizante,
de festivo, de animoso. Não ganharam,
estes dois rapazes, mas não deixaram
de exibir ao vivo e a cores como
são bestiais. Conforme, aliás, é bestial,
teimosamente bestial, a carreira musical
e discográfica dos Virgem Suta. Em definitivo,
não se sabe ao certo se será das
águas, ou assim, mas há qualquer coisa
que está a atingir em forte a música que
se faz e que se pratica em Beja. Se alguém
houvesse que ainda andasse distraído
em relação à deles, o Jorge Benvinda e o
Nuno Figueiredo tiraram todas as teimas
quando no passado domingo entraram
embonecados pela casa das pessoas
a dentro. Já no dia anterior, António
Zambujo veio ao cineteatro da sua terra
para cantar Chico Buarque. A casa estava
pelas costuras, pois claro que estava,
e tivesse ele, Zambujo, disponibilidade
de agenda e por cá levaria um
valente par de semanas a rebentar bilheteiras.
Paulo Ribeiro também foi ao Pax
Julia, mas isto para dar conta do belíssimo
e recente disco onde canta em exclusivo
poemas de Manuel da Fonseca.
O “Coro dos empregados da câmara” se
não nos esmaga, pelo menos esmurra-
-nos. E um murro, no bom sentido do
sopapo, é o mínimo que se leva para casa
depois de ouvir “Shout it out”, o novíssimo
EP onde os Ho-Chi-Minh guardam
a mais poderosa das versões de
“Enjoy the silence”, tema que os Depeche
Mode mundializaram, alguma vez concebida.
Os Tango Paris também se chegaram
à frente com um novo videoclipe
e os Marvel Lima não param de curtir na
rádio a sua “Primavera”, que não tarda
a chegar, como não tardará o primeiro
single de Bernardo Espinho. É pau para
muita obra…
António Inácio Um homem bestial,
tipógrafo da velha guarda, camarada
de trabalho de longa data, com uma
dedicação e uma inteligência e um humor
a toda a prova, deixou-nos aos 63
anos, no último domingo. O “Diário
do Alentejo” está de luto, perdeu um
dos seus melhores. Nesta hora, em que
elas não saem nem nunca são suficientes,
uma sentida palavra para a família
enlutada: jamais esqueceremos!

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