Editorial
Muda
Paulo Barriga
Dizem
que é cega, surda
e
muda, a justiça. Não
a
justiça que naturalmente
emana
das relações humanas.
A
justiça que distingue
culturalmente
e socialmente o
bem
e o mal. Mas antes a justiça
que
é feita pelo próprio Homem
para
garantir essa igualdade, retidão
e
equidade nas sociedades.
A
justiça legislativa, normativa,
que
é feita pelos políticos e aplicada
nos
tribunais, portanto. E
é
dessa, que se apresenta com
uma
venda nos olhos, uma balança
em
perfeito equilíbrio e
uma
espada punitiva, que se diz
que
é cega, surda e muda. Só que
em
Portugal, essa justiça do direito,
parece
não sofrer de surdez,
nem
de cegueira, nem de
mudez,
como, sem escândalo,
se
pôde constatar no arrastar até
á
prescrição de dezenas de processos
onde
nadam os tubarões.
Ou
como se observou na triste
abertura
do ano judicial, essa
espécie
de luta de galos de naifas
bem
afiadas. Para além de
não
ser cega, nem surda, nem
muda,
a justiça portuguesa não
muda.
Naquilo que é fundamental,
não
muda. Para além do desrespeito
pelos
cidadãos que é a
medida
governamental de fechar
alguns
tribunais do interior,
como
o de Almodôvar,
nada
com substância mudará na
justiça
em Portugal, o único país
dito
“decente” “onde não existe
um
único político na gaiola. A
justiça,
a nossa justiça, é a justiça
dos
ricos e dos poderosos.
É
a justiça da eterna demora. É
a
justiça do chico-espertismo
e
dos patos bravos que, em nenhuma
outra
instância como na
justiça,
manifestam alegre, descarada
e
impunemente a sua
manhosice.
Que é uma das muitas
formas
rascas de se denominar
um
“bom advogado”. Um
“bom
advogado”, quanto mais
caro
melhor, é imbatível em
Portugal.
Ainda que a “justiça”
não
esteja do seu lado, um “bom
advogado”
vence sempre na justiça.
De
recurso em recurso. De
cifrão
em cifrão. De prescrição
em
prescrição. Até à impunidade
total.
Enquanto esta justiça
não
mudar, nunca haverá verdadeiro
respeito
pela justiça. Pelos
seus
agentes. Pelas instituições
em
geral. E assim, a justiça, a
nossa jamais deixará de ser
mero
assunto de
tabloide
ou de rasca
conversa de
taberna.
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