Editorial
Emigrar
Paulo Barriga
O aeroporto
de Beja foi a
maior
aldrabice que nos
pregaram
nos últimos
anos.
Não foi a única. Nem para aí
para
ao pé. Mas foi a maior, a mais
rija
e bem metida trapaça desde que
forjaram
Cavaco Silva para a política,
sem
exceção de todos os inventores
de
Portugal que se lhe seguiram.
Nem
a conclusão de Alqueva
supera
o logro de um dia acontecer
um
aeroporto civil na base militar
que
os alemães em tempos construíram
em
Beja. O aeroporto está feito.
Maneirinho.
Barato. Coisa que dá
jeito
em qualquer parte do mundo.
Menos
aqui. Porque aqui, enjeitados,
nada
dá jeito. As pessoas não sabem,
mas
este governo tem um secretário
de
Estado que trata destas arrelias
e
aborrecimentos. Um visionário.
Como
tantos outros profetas que
o
antecederam, observou que a aerogare
da
Portela já não dá conta do recado
aéreo
de Lisboa. Pelo que será
necessário
construir, de raiz, uma
nova
infraestrutura nalguma base
militar
já existente. Mas na de Beja
não,
diz ele, porque não dá muito
jeito
a modos das fracas acessibilidades.
Como
se não tivesse sido o
seu
próprio Governo, ele próprio, há
meses
atrás, a permitir com impunidade
a
paragem das obras da autoestrada
que
nos deixaria mais perto da
capital.
Como se não soubesse que,
sem
custos por aí além, poderia começar
a
operar em Beja já amanhã.
Mas
os amanhãs assim costumam
cantar.
E isso é coisa que a jovem
guarda
governamental não está interessada
em
escutar. Já a empresa
que
supostamente dirige o aeroporto
de
Beja, a ANA, acha que isto só lá
vai
para 2017. Ou assim. Quando o
turismo
de massas dizimar a costa
alentejana
e algum parvo quiser levantar
hotéis
de grande calibre em
redor
de Alqueva. Como tal não irá
acontecer,
para o bem e para o mal,
o
melhor será, entretanto, transformar
o
aeroporto num estaleiro de
aviões.
E pronto. Não há turismo,
nem
charme, nem passarinhos, mas
há
mão de obra mecânica com fartura.
À
sua vez, os militares andam
a
deixar-se enamorar pelos coreanos
do
sul que aqui querem instalar
uma
base militar. Porreira. Com jatos
supersónicos
impecáveis. E tudo
o
resto que os asiáticos não querem lá
na
sua própria terra. O aeroporto de
Beja
transformou-se numa aldrabice
como
não há memória. Numa trapalhada.
E
só a parca visão deste governo
pode
deixar de enxergar como
seria
bom para a sua própria política
–
e para o país que quer destruir
–
avançar para Beja. Agora. E em
força.
Abrindo um aeroporto. Uma
porta
para o mundo. Por onde todos
teríamos
a possibilidade de passar.
Sem
retornar. Não é isso que se pretende?
Um país sem gente?
Mais barato e dócil?
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