quinta-feira, 1 de março de 2012

Diário do Alentejo Edição nº 1558


Editorial
Emigrar
Paulo Barriga
O aeroporto de Beja foi a
maior aldrabice que nos
pregaram nos últimos
anos. Não foi a única. Nem para aí
para ao pé. Mas foi a maior, a mais
rija e bem metida trapaça desde que
forjaram Cavaco Silva para a política,
sem exceção de todos os inventores
de Portugal que se lhe seguiram.
Nem a conclusão de Alqueva
supera o logro de um dia acontecer
um aeroporto civil na base militar
que os alemães em tempos construíram
em Beja. O aeroporto está feito.
Maneirinho. Barato. Coisa que dá
jeito em qualquer parte do mundo.
Menos aqui. Porque aqui, enjeitados,
nada dá jeito. As pessoas não sabem,
mas este governo tem um secretário
de Estado que trata destas arrelias
e aborrecimentos. Um visionário.
Como tantos outros profetas que
o antecederam, observou que a aerogare
da Portela já não dá conta do recado
aéreo de Lisboa. Pelo que será
necessário construir, de raiz, uma
nova infraestrutura nalguma base
militar já existente. Mas na de Beja
não, diz ele, porque não dá muito
jeito a modos das fracas acessibilidades.
Como se não tivesse sido o
seu próprio Governo, ele próprio, há
meses atrás, a permitir com impunidade
a paragem das obras da autoestrada
que nos deixaria mais perto da
capital. Como se não soubesse que,
sem custos por aí além, poderia começar
a operar em Beja já amanhã.
Mas os amanhãs assim costumam
cantar. E isso é coisa que a jovem
guarda governamental não está interessada
em escutar. Já a empresa
que supostamente dirige o aeroporto
de Beja, a ANA, acha que isto só lá
vai para 2017. Ou assim. Quando o
turismo de massas dizimar a costa
alentejana e algum parvo quiser levantar
hotéis de grande calibre em
redor de Alqueva. Como tal não irá
acontecer, para o bem e para o mal,
o melhor será, entretanto, transformar
o aeroporto num estaleiro de
aviões. E pronto. Não há turismo,
nem charme, nem passarinhos, mas
há mão de obra mecânica com fartura.
À sua vez, os militares andam
a deixar-se enamorar pelos coreanos
do sul que aqui querem instalar
uma base militar. Porreira. Com jatos
supersónicos impecáveis. E tudo
o resto que os asiáticos não querem lá
na sua própria terra. O aeroporto de
Beja transformou-se numa aldrabice
como não há memória. Numa trapalhada.
E só a parca visão deste governo
pode deixar de enxergar como
seria bom para a sua própria política
– e para o país que quer destruir
– avançar para Beja. Agora. E em
força. Abrindo um aeroporto. Uma
porta para o mundo. Por onde todos
teríamos a possibilidade de passar.
Sem retornar. Não é isso que se pretende?
Um país sem gente? Mais barato e dócil?

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