quinta-feira, 5 de abril de 2012

Diário do Alentejo Edição 1563



Editorial
Doutores
Paulo Barriga
É mais fácil apanhar por aí
um licenciado do que um
coxo. Mesmo que sejam
mancas as licenciaturas que se
vão deixando apanhar. A maioria
delas, boa parte delas, pernetas
da cabeça aos pés. Como diria
com humor um bem-humorado
humorista. Mas não deixa de
ser assinalável a destreza com
que a tecnocracia lisboeta baniu
esta semana do Programa
Operacional do Alentejo um
raro exemplar do animal academicamente
não graduado. E a
ainda mais veloz eficiência com
que os municípios do Alentejo
cataram para o seu lugar um
legítimo exemplar licenciado.
Quase ao virar da esquina. De
um dia para o outro. Ainda
há nada de tempo, Fernando
Caeiros, que governou com a eficiência
que todos lhe reconhecem
a Câmara Municipal de
Castro Verde entre 1977 e 2008,
fora reconduzido enquanto vogal
executivo do InAlentejo.
Cargo que, em representação
dos municípios, desempenhou
nos últimos anos com unânime
reconhecimento, valor, competência,
rigor, determinação
e dedicação. Mas esta semana,
por indicação do Governo, aos
membros do qual não se aplica
tal regulamento, nem aos deputados,
como é óbvio, Caeiros foi
enxotado por não possuir sequer
uma licenciaturazinha daquelas
da Universidade Independente.
É incrível e insuperável a tendência
para a galhofa que existe
nesta comédia rasca a que ainda
vamos chamando país. Numa
altura em que em todos os graus
de ensino – do primário ao pós -
-graduado – são valorizadas as
competências adquiridas na vida
ativa em detrimento do estudo e
das abonações científica e académica,
um gestor experimentado
como Fernando Caeiros é
reconduzido à condição de indigente
em matéria de “cargos por
nomeação política em organismos
públicos”. Quando o principal
problema orgânico do País
reside precisamente na desumanização,
extrema politização e
tecnocratização radical desses
mesmos cargos. Pelo que esta situação
não deixa de ser anedótica.
Rasca, mas anedótica

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