Editorial
Rádio
Paulo Barriga
Esta semana, no fundo dos
jornais, de alguns, apareceu
uma notícia supostamente
banal. Uma notícia que dava
conta dos consumos de rádio em
Portugal. Na luta pela liderança
das audiências, no que toca às estações
generalistas, musicais, a Rádio
Comercial continua a levar a melhor
sobre a RFM, mesmo com a recente
saída de Ricardo Araújo Pereira da
antena. Nas informativas, a TSF
cresceu um nadinha. Mas a grande
questão marginal à notícia, marginal
à própria ordem informativa,
é que o consumo de rádio tornou a
cair. Outra vez. Depois de outra e de
mais outra. Há cada vez menos pessoas
a consumir rádio em Portugal.
O que não deixa de ser preocupante.
A rádio é o mais íntimo, democrático
e imediato dos meios de comunicação
de massas. É na rádio, e apenas
na rádio, que se estabelece calor
entre quem emite e quem receciona
mensagens mediatizadas. A rádio,
através da proximidade que ela gera,
é um vizinho sempre atento e preocupado
e disponível. Não ouvir rádio
é cortar de vez com o último elo de
vizinhança que talvez nos reste. Nos
tempos que correm, em que tudo se
resume a cifrões, a quebra do consumo
de rádio pode levar (vai levar)
a um desinvestimento publicitário
que conduzirá à extinção do próprio
meio. O que não deixa de ser uma
injustiça tremenda. Nas últimas décadas,
se há média que inovou, que
se reinventou, que se aproximou das
pessoas foi a rádio. E esta renovação
da rádio, a par das necessárias atualizações
tecnológicas, deu-se essencialmente
ao nível da criatividade.
Nunca, como hoje que não a escutam,
a rádio foi tão intensa, tão emotiva,
tão colorida, tão imagética. E
tudo isto sem qualquer outra ajuda
que não a palavra dita. A palavra
contada. Transmitida oralmente.
Como acontece desde que o Homem
aprendeu a comunicar. O fim dos
dias da rádio, no tempo em que a
comunicação interpessoal passou
para dentro do computador, é o fim
da conversa. Em 1981, quando a televisão
americana inventou o canal
de telediscos MTV, abriu a emissão
com um tema supostamente profético
do grupo The Buggles: “Video
killed the radio star”. Estavam bem
enganados. Muito mais enganados
do que agora estamos.
Sem comentários:
Enviar um comentário