quinta-feira, 21 de março de 2013

Diário do Alentejo Edição 1613

Editorial


Rádio

Paulo Barriga

Esta semana, no fundo dos

jornais, de alguns, apareceu

uma notícia supostamente

banal. Uma notícia que dava

conta dos consumos de rádio em

Portugal. Na luta pela liderança

das audiências, no que toca às estações

generalistas, musicais, a Rádio

Comercial continua a levar a melhor

sobre a RFM, mesmo com a recente

saída de Ricardo Araújo Pereira da

antena. Nas informativas, a TSF

cresceu um nadinha. Mas a grande

questão marginal à notícia, marginal

à própria ordem informativa,

é que o consumo de rádio tornou a

cair. Outra vez. Depois de outra e de

mais outra. Há cada vez menos pessoas

a consumir rádio em Portugal.

O que não deixa de ser preocupante.

A rádio é o mais íntimo, democrático

e imediato dos meios de comunicação

de massas. É na rádio, e apenas

na rádio, que se estabelece calor

entre quem emite e quem receciona

mensagens mediatizadas. A rádio,

através da proximidade que ela gera,

é um vizinho sempre atento e preocupado

e disponível. Não ouvir rádio

é cortar de vez com o último elo de

vizinhança que talvez nos reste. Nos

tempos que correm, em que tudo se

resume a cifrões, a quebra do consumo

de rádio pode levar (vai levar)

a um desinvestimento publicitário

que conduzirá à extinção do próprio

meio. O que não deixa de ser uma

injustiça tremenda. Nas últimas décadas,

se há média que inovou, que

se reinventou, que se aproximou das

pessoas foi a rádio. E esta renovação

da rádio, a par das necessárias atualizações

tecnológicas, deu-se essencialmente

ao nível da criatividade.

Nunca, como hoje que não a escutam,

a rádio foi tão intensa, tão emotiva,

tão colorida, tão imagética. E

tudo isto sem qualquer outra ajuda

que não a palavra dita. A palavra

contada. Transmitida oralmente.

Como acontece desde que o Homem

aprendeu a comunicar. O fim dos

dias da rádio, no tempo em que a

comunicação interpessoal passou

para dentro do computador, é o fim

da conversa. Em 1981, quando a televisão

americana inventou o canal

de telediscos MTV, abriu a emissão

com um tema supostamente profético

do grupo The Buggles: “Video

killed the radio star”. Estavam bem

enganados. Muito mais enganados

do que agora estamos.

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