quinta-feira, 30 de maio de 2013

É Preciso...!

É preciso


A criança ali estava, sentada na sua ilha.

Olhava para o mundo e pensava.



A criança viu as guerras.

E disse para consigo: é preciso pintar as fardas dos soldados.

É preciso, dos canos das espingardas,

fazer poleiros para os pássaros e flautas de pastor.



A criança viu a fome.

E disse para consigo: é preciso prender as nuvens com um laço

e fazê-las lançar chuva sobre os desertos.

É preciso abrir ribeiros de água e de leite.



A criança viu a miséria.

E disse para consigo: é preciso aprender a somar,

a subtrair, a multiplicar e depois a dividir.

É preciso aprender a partilhar o dinheiro, o pão, o ar e a terra.



A criança viu os poderosos a dar ordens, a clamar, a decretar.

E disse para consigo: é preciso abrir-lhes os olhos

ou então pô-los dali para fora.



A criança viu o oceano.

E disse para consigo: é preciso lavá-lo

e depois olhá-lo e… sonhar.



A criança viu as florestas.

E disse para consigo: é preciso aventurar-se e nelas escrever histórias,

deitar-se no chão coberto de musgo…a ouvi-las.



A criança viu as lágrimas.

E disse para consigo: é preciso aprender a abraçar-se,

a não ter medo dos beijos.

É preciso aprender a dizer “gosto de ti.”



A criança ergueu a cabeça.

Viu a lua com uma bandeira espetada na testa.

Que ultraje!

E disse para consigo: é preciso tirá-la de lá e pedir-lhe perdão.



Por fim, da sua ilha, a criança olhou para o mundo pela última vez.



E depois decidiu…



… NASCER.





Thierry Lenain ; Olivier Tallec

Il faudra

Paris, Éd. Sarbacane, 2004

(Tradução e adaptação)

Sem comentários: