quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Diário do Alentejo Edição 1632

Editorial
Vírus
Paulo Barriga

Para acompanhar uma
nova imagem de marca, a
Câmara de Beja lançou um
vídeo promocional sobre a cidade e
o concelho. Já muitas outras autarquias
e instituições o fizeram antes.
Ainda agora, Câmara de Odemira
e a Junta de Freguesia de Cabeça
Gorda deram a conhecer filmes
onde relevam as potencialidades
do seu território. Não importa aqui
debater a eficácia, o preço, a qualidade
ou a oportunidade destes videoclipes.
Interessa é perceber que
abandonámos em definitivo a chamada
“galáxia Gutemberg”, a era
da escrita e da tipografia. Para entrarmos
no insondável “cosmos de
São Tomé”, que são as redes sociais:
ver para crer. Não é que, a nível sociológico,
esta passagem da escrita
à imagem, da forma como está a
ocorrer, transporte grandes alterações.
Ler e ver continuam a ser atos
humanamente solitários. Já em termos
psicológicos e afetivos, o homem
que vê está muitíssimo mais
arredado do sonho, da imaginação,
da autocriação do que o homem que
lê. Quem vê está mais informado,
mais pobremente informado, mais
globalmente formatado. As novas
tecnologias da informação alteraram
por completo a nossa maneira
de ver o mundo e de o entender.
Hoje, como nunca antes, faz todo o
sentido recuperar uma das maiores
profecias do pensador canadiano
Marshall McLuhan: “O meio
é a mensagem”. De facto, qualquer
inovação que aconteça ao nível dos
meios de difusão da mensagem é
sempre muito mais relevante do
que qualquer alteração ou intoxicação
ao nível da própria mensagem.
As mensagens que recebemos no
Facebook, que vemos no YouTube
ou que escutamos no MySpace,
imediatas, fracionadas, velozes, essas
mensagens têm a validade de
um instante e um interesse residual
muito próximo de zero. O que é valioso,
objetivamente, é estarmos no
Facebook, no YouTube, no MySpace
ou em qualquer outra rede onde as
pessoas e as mensagens se entrecruzam.
Que são, afinal, os únicos locais
onde os contágios virais são recebidos
com agrado e ovação e sem
recorrer a mesinhas. De resto, estamos
cada vez mais sozinhos no
meio da multidão.

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