quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Diário do Alentejo Edição 1639


Editorial
Patetas

Paulo Barriga

O PS não quer que o Estado,
em qualquer das suas
múltiplas faces, seja proprietário
de órgãos de comunicação
social. Pelo que, de tempos a
tempos, quase por autorrecriação,
tenta fazer passar diplomas legislativos
nesse sentido. Sempre sem sucesso.
O PS considera que o Estado
não garante o pluralismo informativo
(eles lá sabem do que falam) e
está contra qualquer tipo de promiscuidade
entre a política e os média.
Particularmente acho que o PS
acha bem aquilo que acha. As direções
editoriais dos órgãos de comunicação
estatais devem ser totalmente
independentes da tutela.
O que já não acho como o PS acha é
que as derrapagens jornalísticas no
óleo da política tenham a ver com
a mecânica do automóvel da propriedade.
O problema não está propriamente
na posse, mas antes nas
relações de bastidores entre jornalistas
e gabinetes de imprensa. E
isso é válido para os órgãos de comunicação
públicos e para os privados.
Mas o PS acredita mesmo
que o cancro da má informação
está nos meios de comunicação
que o Estado detém. Excetuando a
televisão, a rádio e a agência noticiosa
públicas. Ora, para além das
exceções, que afinal são a regra, o
Estado apenas é proprietário do
“Jornal da Madeira”, que é financiado
pelo Governo Regional, e do
“Diário do Alentejo”, que é propriedade
da Associação de Municípios
do Baixo Alentejo e Alentejo
Litoral. Não deixa de ser surpreendente
que nove deputados do PS (o
que equivale, em gente, a três redações
do “DA”) se tenham dado ao
esforço de redigir um projeto de
lei inteirinho para acabar com estes
dois tenebrosos e perniciosos
jornais da província. Em nome da
pluralidade informativa nacional.
Isto é muito à frente. Percebe-se
que o “Diário do Alentejo”, no meio
de toda esta patetice (para usar um
termo caro a Alberto João Jardim),
é apenas uma espécie de “dano
colateral”. E que o grande objetivo
da iniciativa legislativa do PS
é apenas e somente a liquidação
do “Jornal da Madeira”. Mas talvez
não seja desajustado relembrar
aos senhores deputados que já
existem leis, entidades e mecanismos
legais suficientes para agir sobre
quem escorrega para lá do tolerável.
Elaborar uma lei direcionada
a um jornal específico não é apenas
ridículo, é juridicamente e eticamente
reprovável. Ainda para mais
quando a estes supostos cavaleiros
da liberdade de imprensa não
lhes incomoda a RTP e a Lusa permanecerem
na esfera do Estado. A
pergunta é simples, como convém
ser num jornal que corre o risco de
deixar de o ser: é para isto que andamos
a pagar os ordenados a estes
tipos?

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