domingo, 29 de dezembro de 2013

Diário do Alentejo Edição 1653


Editorial
Irrevogável
Paulo Barriga

2013 foi um ano irrevogável.
Disso não restam dúvidas.
Bem, ainda nos sobram
quatro dias para encerrar
o caderno de encargos em definitivo.
Mas se tudo correr dentro
de uma certa irrevogabilidade, o
que está feito, feito está. O que lá
vai, lá vai. A galinha da vizinha é
mais gorda que a minha. O futuro
a Deus pertence. E outras coisas
assim espertas, do género: saúde
e sorte e pão na arca é o que mais
vos desejo. Na sua existência cómica
e definitiva, 2013 acaba de
ser o Ano Europeu dos Cidadãos.
Pela primeira vez, o cidadão europeu
português, irrevogavelmente
desatento, se deu conta que a sua
cidadania afinal conta e que conta
principalmente a sua conta. Não
foi por acaso que os guarda-livros
de todo o mundo decidiram
celebrar também em 2013 o Ano
Internacional da Contabilidade. O
encerramento dos festejos ainda
não foi anunciado, é possível que
a farra se faça no Terreiro do Paço.
O que muito nos engrandece e satisfaz.
O Governo, aliás, está a desenvolver
contactos internacionais
no sentido de os contabilistas
virem até Lisboa dar uma olhadela
às contas do Estado que, irrevogavelmente,
costumam estar
mal contadas. Fonte do gabinete
do primeiro-ministro revelou
mesmo que o executivo, por mera
distração, não pautou a sua governança
pela mensagem do Ano
Internacional da Contabilidade.
Em contrapartida, por indicação
da Unesco, inspirou a política
orçamental de 2013 nos mandamentos
do Ano Internacional
de Cooperação pela Água. E levou
o lema tão a peito que deverá
sobrar água nas contas públicas
até meados do presente século.
O que obriga o comum cidadão
português vivente em Portugal a
olhar com irrevogável preocupação
para 2014. Que, nem por mero
acaso, é o Ano Internacional da
Agricultura Familiar. Esta coisa
está mesmo bem pensada. Nem
mesmo a conjugação sincronizada
dos astros oferecerá tantas
pistas para o futuro como as celebrações
internacionais. Já agora:
2014 é igualmente o Ano Europeu
do Cérebro. Será que é desta que
vamos começar a usá-lo com irrevogabilidade?

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