sexta-feira, 7 de março de 2014

Diário do Alentejo Edição 1663

Editorial
Mulher
Paulo Barriga

Amanhã, que é sábado, celebra-
se o Dia Internacional
da Mulher. Com o século
XXI avançado na idade, como
começa a estar, esta parece ser
das efemérides mais anacrónicas
e embaraçosas do programa
das festas da Organização das
Nações Unidas. Dia Internacional
da Mulher. Mas por que carga de
água deverá a mulher ter um dia
seu e só seu? Por que raio haveremos
de marcar a palavra “mulher”
num quadrado do calendário?
Isso faz algum sentido? Hoje?
Infelizmente, sim, faz! Faz todo o
sentido. Ainda na última semana
foi publicado um estudo que revela
que as mulheres portuguesas,
no trabalho, são pior remuneradas
que os homens. Há empresas,
muito honradas e muito bem cotadas
na bolsa de valores, que solidificam
receitas rejeitando emprego
a mulheres, nomeadamente
àquelas que estão em idade reprodutiva.
Naquela idade ótima
para certos patrões exercerem o
ainda tão sorridentemente aceitável
e compreensível assédio sexual.
Fora de casa, a mulher continua
a contar muito menos que o
homem. E dentro de casa? Na suposta
segurança do lar? Ainda
pior! Os relatórios das instituições
de proteção à vítima são unanimes
quando apontam para um
aumento desenfreado dos casos
de violência doméstica. Nesta
matéria, as estatísticas são ultrajantes.
Existem mulheres que,
durante anos a fio, foram e são
sistematicamente ameaçadas pelos
seus parceiros, humilhadas,
agredidas, violentadas, assassinadas.
Tudo isto debaixo de uma
cândida cumplicidade social, num
País onde a passionalidade rima
com permissividade. E na política?
E nos cargos de chefia? Onde
está a tão famigerada e badalada
paridade? Nas segundas linhas,
salvo raras exceções. Muito raras,
aliás. E é por tudo o que se disse e
por tudo o mais que ficou por dizer
que é embaraçoso e anacrónico
celebrar o Dia Internacional
da Mulher em pleno século XXI.
A melhor homenagem que podemos
prestar à mulher acontecerá
quando nos esquecermos dela a 8
de março. Sinal que, de facto, alguma
coisa mudou. Para melhor.
Para muito melhor.

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