quinta-feira, 5 de junho de 2014

Diário do Alentejo Edição 1676

Editorial
Fermoso
Paulo Barriga

António José Seguro
conseguiu um feito
assinalável na história
dos regimes democráticos
ocidentais: ganhou uma valente
derrota. Embora o partido
que lidera, o PS, tenha
saído com mais votos e mandatos
das últimas eleições para
o Parlamento Europeu, como,
aliás, já tinha acontecido nas
Autárquicas de setembro, o seu
pescoço foi assim mesmo parar
ao cepo. “Ganhou por poucos”,
dizem os seus delatores
mais ferinos, nomeadamente
António Costa, que gostaria
de vir a ser primeiro-ministro
num putativo governo socialista.
“Ganhar por poucos”
é coisa de moços pequenos.
Num jogo de homens feitos,
seja a sueca, os matraquilhos
ou a malha, ganhar é ganhar e
ponto final. A quem não agradaria
um e apenas um golito do
Cristiano na final do Mundial?
Sem sofrermos nenhum? Mas
no PS, esse colosso do paradoxo
político, não são essas as
regras do jogo, pelo menos no
que diz respeito ao conseguimento
da vitória. Fermoso mas
não seguro, o atual líder do PS,
depois de acossado com a ideia
de um congresso partidário
eletivo, decidiu avançar para
a fonte com um pote de ideias
frescas à cabeça: eleições primárias
na escolha do candidato
socialista a primeiro-
-ministro, onde até os “meros
simpatizantes” podem participar;
redução do número de deputados
da República dos atuais
230 para 180 e, dando graça
à sua fermosura, estabelecer
círculos uninominais na eleição
para o Parlamento. E com
tão lindas ideias, Seguro até o
mundo espanta. Estas duas últimas
fantasias, no seu conjunto,
e para o Alentejo seriam
uma verdadeira catástrofe em
termos de representatividade
parlamentar. A redução do número
de deputados, estratégia
populisticamente simbólica,
na razão das proporcionalidades,
deixar-nos-ia não com a
atual tanga curta, mas apenas
com uma folha de parra a tapar
as nossas partes na Assembleia
da República. E os círculos
uninominais acabariam com
as veleidades dessa corja que
são os grupúsculos políticos,
esses mesmos onde agora as
pessoas, “ingratamente”, quiseram
depositar o seu voto de
descontentamento para com o
Governo. Em vez de verdura,
são muitos os tanganhos e os
espinhos no caminho da fonte,
principalmente para quem
ainda não se deu conta que vai
descalço e já não segura.

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