domingo, 26 de abril de 2015

Diário do Alentejo Edição 1722

Editorial
Ideais
Paulo Barriga

O “Diário do Alentejo”, na sua
existência, está profundamente
ligado ao 25 de Abril.
Aos seus ideais. À sua génese. Para
além de, ao longo da sua história de
perto de 83 anos, ter sempre mantido
uma linha editorial com um assinalável
distanciamento sanitário
em relação às políticas do espírito impostas
pelo Estado Novo, nos tempos
imediatamente a seguir à Revolução
constitui-se como uma forte cidadela
em torno da defesa das liberdades individuais
e da democracia representativa.
Não deixa de ser curioso que
os anos quentes que se seguiram a
1974 foram precisamente aqueles que
mais dificuldades financeiras trouxeram
a um jornal cuja propriedade,
na ocasião, pertencia a privados. A
euforia noticiosa, efervescente, revelou-
se, afinal, inversamente proporcional
à evolução da saúde financeira
da empresa proprietária. A publicação
chegou mesmo a ser suspensa e
o seu espólio liquidado em hasta pública.
Costuma dizer-se que existem
males que vêm por bem. Este parece
ter sido o caso. Em 1982, os 18 municípios
da antiga província do Baixo
Alentejo juntaram-se em associação
com o propósito primeiro, e então
único, de resgatar o título do mais
emblemático periódico da região. Um
ato inédito não apenas pelo facto de,
em contraciclo com a vaga de privatizações
no setor, o Estado, através de
um conjunto de autarquias locais, se
ter tornado proprietário de um órgão
de comunicação, mas também pelo
inovador empreendimento que essa
ação gerou: a criação da primeira associação
de municípios do País. Mas
se, por um lado, o feito da inauguração
do associativismo intermunicipal
em Portugal ser amplamente celebrado
e reconhecido, já a posse de um
jornal informativo por parte de uma
estrutura composta por eleitos políticos
tem levantado fortes celeumas
ao longo dos anos. A questão é esta e é
recorrente: deverá o Estado, em qualquer
das suas instâncias, possuir órgãos
de comunicação social e garantir
a total independência editorial
dos mesmos? A resposta a esta questão
não gera consensos e a história recente
até nos alerta para profundas e
graves derrapagens éticas entre direções
editoriais, administrações e tutelas.
Dirijo o “DA” vai para quatro
anos e meio. Cheguei ao jornal através
de concurso público. Não nego
que, de quando em vez, sofra pressões
externas. Mas nada que, por
certo, não acontecesse igualmente
na esfera do privado. O que sei é que,
com a crise que se instalou no País e
que ganhou proporções drásticas na
região, o “DA” já não existiria se tivesse
sido reprivatizado. E também
sei que hoje este é um jornal isento e
um inflexível respeitador das regras
éticas e deontológicas da profissão. A
liberdade de expressão e de opinião
passa por aqui. E por isso se disse que
o “Diário do Alentejo” está profundamente
ligado ao 25 de Abril. Aos seus
ideais. À sua génese.

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