domingo, 2 de agosto de 2015

Diário do Alentejo Edição 1733

Após férias
Editorial
Things
Paulo Barriga

Uma dúzia de deputados do
PCP levou à Assembleia
da República um projeto
de resolução no sentido de excitar
o Governo para o desenvolvimento
do aeroporto de Beja. No essencial,
os parlamentares comunistas pretendem
que a governança assuma
como boas as recomendações emanadas
pelo grupo de trabalho sobre
o aeroporto que foi criado e extinto
em 2012. No essencial, a iniciativa
parlamentar comunista subscreve
as propostas e conclusões do dito
grupo de trabalho. Pouco ou nada
mais acrescentando, em termos de
substância, sobre um assunto que
para o País adquiriu o estatuto de
anedota. Para o Alentejo um travo
de desilusão. E para o Governo um
achaque de Branca de Neve após
mordiscar a maçã envenenada.
Em termos de espessura política,
o PCP subscreve aquilo que qualquer
pessoa atinada pode pensar
sobre a coisa: os atual e anterior governos
apenas construíram a aerogare
de Beja porque ficaram reféns
do próprio processo e não havia
forma de o não concretizar. No entanto,
isso não diz o PCP mas cá vos
deixo, em cada passo avante que o
aeroporto deu na sua materialização
física, dezenas de recuos foram
dados na sua operacionalização e
sustentabilidade. Para não gerar fadiga,
recordo apenas a mirabolante
instalação em Évora da empresa
brasileira Embraer, o desmantelamento
da ferrovia ou o abandono
dos principais itinerários rodoviários
circundantes ao aeroporto.
Estas sim foram iniciativas de má-
-fé, premeditadas, que aniquilaram
à nascença este equipamento. Nós
diríamos “tolice”, “asneira” ou “absurdo”
se nos apresentassem, como
nos apresentaram, um aeroporto
novinho em folha, sem um plano
de negócios e sem sequer uma estrada
que lhe possa assistir. Os ingleses
têm melhor definição: nonsense.
Por falar em língua inglesa,
regressemos ao projeto de resolução
do PCP, mas agora com a ajuda de
um tradutor, mais concretamente
àquela parte onde se reclama que o
aeroporto de Beja deve ser transformado
“num hub do cluster aeronáutico
em Portugal”. Hub quer dizer
qualquer coisa como “plataforma
giratória”, uma espécie de grande
aeroporto central por onde passa
a maior parte dos voos. Já cluster é
uma palavra que pode ser substituída
por “fileira”, o conjunto das atividades
e dos negócios que têm a
ver, neste caso, com a aviação. Ou
seja o PCP acha, e eu concordo, que
o por ora murcho casão de Beja deverá
amanhã florir e resplandecer
como um grande aeroporto central
da fileira aeronáutica portuguesa.
Concordo, embora reconheça que
talvez tudo isto não passe de um sonho
numa noite de verão. De um
midsummer night’s dream, como
ironizaria Shakespeare.

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