domingo, 2 de agosto de 2015

Diário do Alentejo Edição 1734

Após férias
Editorial
Atmosfera
Paulo Barriga

Já paira na atmosfera aquela
aragenzinha muito particular
que costuma aparecer em
tempo de eleições. Aquela bafagem
tão abstrata e indefinida, como nenhuma
outra coisa qualquer. Aquela
brisa onde se misturam o cheiro a
fritos e a persuasão barata. Onde
se confunde o passou-bem com o
passar bem e com o bem passado.
É nestes tempos aturdidos, e apenas
neles, que boa parte dos políticos
até aparentam ser pessoas normais.
Um nadinha exagerados nos
abraços e nos beijinhos, nos sorrisos
e nos afetos, nas calças vincadas
e nas marrafas do cabelo, mas pessoas
normais. Ou quase. As campanhas
eleitorais fazem bem aos políticos
e também nos fazem bem a
nós. Para eles, as campanhas são
uma espécie de “vale-tudo”, de carnaval,
onde podem brincar abertamente
à pantominice, transgredir,
transvestir-se… Enfim, o que quiserem
e bem entenderem. Para nós,
as campanhas são tal e qual aquelas
quermesses paroquianas que dão
sempre prémio, embora normalmente
pechisbeque. Na verdade,
ainda não estamos em campanha
eleitoral, mas já os nossos sentidos
a persentem em todo o seu fulgor.
Os estudantes andam felicíssimos
com as surpreendentes notas alcançadas
nos exames. O reembolso dos
impostos sobre o trabalho chegou a
tempo e horas. O subsídio de férias
veio por inteiro e deixa lá ver como
será no Natal. A coisa está de tal
forma exuberante que até as obras
foram retomadas no IP2. Parece
mentira, não é verdade? Há maquinaria
que estava parada desde 2011
e que agora já anda a remover torrões
de um lado para o outro, há homens
de colete florescente e de capacetes
de plástico nas respetivas
cabeças, há gente dependurada no
betão-armado dos viadutos dando
a ideia que “a coisa é para ir para a
frente e em força”. Embora pareça,
o que agora mesmo ficou entre aspas
não é um slogan de campanha.
É apenas a convicção de um cantoneiro
de estradas entusiasmado
com a ideia de ter trabalho pelo menos
até ao dia das eleições. Que será
lá para outubro. Depois, tudo voltará
ao normal. Os capacetes de
plástico, as notas nos exames, os
políticos, a atmosfera.

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