domingo, 2 de agosto de 2015

Diário do Alentejo Edição 1736

Editorial
Estendal
Paulo Barriga

Consoante as circunstâncias e as
estratégias, os interesses imediatos
ou até o descaramento,
assim fazem os políticos uso das palavras
e das expressões em seu belo proveito.
Os lugares-comuns, as banalidades
e o ligeirismo tomaram conta da
agenda, criando uma espécie de entulho
ao abandono bem no centro da
mensagem política. Um dos jargões ou
clichés de maior astúcia para justificar
o inesperado, para legitimar o dito
pelo não dito ou para revogar o irrevogável
é: “na política, nem tudo o que parece
ser, é”. Evidentemente que, se for o
caso, também é valida a conotação inversa:
“na política, tudo o que parece
ser, é”. O lançamento das listas partidárias
por Beja com as candidaturas
às eleições de 4 de outubro dão-nos
um bom exemplo de como a coisa pode
funcionar para os dois lados, sem que
ninguém se melindre muito com o assunto,
antes pelo contrário. Quando o
PS ainda andava localmente a congeminar
uma lista de candidatos proponentes
a deputados caiu sobre os jornalistas
o nome de um paraquedista (na
política, paraquedista é o termo que se
atribui a um tipo que é imposto às estruturas
regionais pelas cúpulas dos
partidos). No caso era o bem-apessoado
deputado João Galamba. Ninguém viu,
de verdade, onde caiu a calote do paraquedas,
se é que alguma vez caiu. Mas
a vinculação da notícia criou um movimento
reativo que acabou por legitimar
a lista proposta pelos socialistas cá
da terra, que leva à cabeça dois autarcas
em fim de ciclo, com trabalho meritório,
boa imagem e sangue fresco. Tudo bem.
Não está em causa o putativo não-acontecimento
João Galamba, o que faz espécie
é como por vezes nós, os jornalistas,
engordamos ainda mais o tal jogo
de aparências que é tão caro aos políticos:
“na política, nem tudo o que parece
ser, é”. Um jogo de espelhos onde o boato,
ou a sua possibilidade, acaba por
ter tanto ou mais valor do que o facto.
Já o PSD, certamente pelo líder regional
e candidato a candidato ter contado as
favas por antecipação, a imposição de
cima da também paraquedista Nilza de
Sena transformou-se logo num facto.
O que não quer necessariamente dizer
que, em bom politiquês, o facto tenha
maior ou menor valor do que o boato.
Aliás, um e outro, o facto e o boato, têm
valia e validade próprias. Aqui estamos
no outro campo: “na política, tudo o que
parece ser, é”. Embora se saiba que, tantas
vezes já se viu esse filme, depressa
aquilo que parece pode deixar repentinamente
de parecer. A substancial diferença
entre um caso e outro tem apenas
a ver com as limpezas. Enquanto uma
nódoa deixada pelo boato sai logo à primeira
lavagem de sabão-macaco. Já a
gordura que o facto faz entranhar no tecido
carece de melhor detergente e de
aditivos de limpeza mais sofisticados. O
PS já tem os trapos a secar no estendal
das eleições e não se notam resquícios
do João Galamba. Mas será que Mário
Simões conseguirá eliminar o borrão
deixado por Nilza de Sena na bandeira
do PSD de Beja?

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