sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Diário do Alentejo Edição 1747

Editorial
Refugado
Paulo Barriga

Durante os últimos quatro
anos o povo português andou
a dançar com a fulana
mais feia. Mas, afinal, havia outra.
Ou melhor, havia outras tipas para
bailar. Se ainda não se sabia, pelo
menos desconfiava-se com profundidade
que o último Governo andava
a impor porções de austeridade
muito para além da dose de remédio
que era conveniente ministrar
ao enfermo. “Não morres da doença,
morres da cura”. Também se sabia
que os partidos mais à esquerda, o
Bloco e o PC, tinham um diagnóstico
muito menos reservado e que,
para estas forças políticas, o doente
sairia de convalescença sem necessidade
de qualquer zaragatoa austeritária.
“Levanta-te e anda”. Já da parte
dos socialistas se sabia que “nem sim
nem não, antes pelo contrário”. Este
era o cenário mais ou menos conhecido
até ao sol-pôr do dia 4 de outubro.
Mas, logo depois, vieram as projeções
eleitorais. E, depois delas, os
resultados oficiais das Eleições. E,
com estes, a balbúrdia que ainda hoje
permanece. Sarapatel que se resume
em duas palavras: “triunfo” e “austeridade”.
Afinal quem é que saiu vencedor
do último ato eleitoral? O PSD
e o CDS que, juntos, tiveram mais votos?
O PS que ficou com a bainha das
calças à meia-canela? Ou a esquerda
mais à esquerda que agora também
diz que quer fazer parte do mando?
As perguntas parecem de fácil resposta,
mas “as aparências iludem”.
Reserve-se a questão do “triunfo”
em lume brando e descasquem-se
agora os véus da “austeridade”. Nos
últimos dias houve grandes avanços
ou, para utilizar um termo caro aos
políticos, grandes evoluções nesta
matéria. O PCP, o BE, Os Verdes e
até o PAN estão dispostos a viabilizar
um governo de esquerdas, nem
que para tanto tenham que engolir
não um sapo, mas antes um sapinho
de austeridade. Por seu turno, o
PSD e o CDS pretendem que se viabilize
um governo de direitas, nem
que para isso tenham de emagrecer
não o sapinho, mas antes o sapo da
austeridade. Quanto ao PS, “nim”.
Ou seja, ao inverso daquilo que foi
dito aos portugueses durante a campanha
pela coligação que esteve no
Governo, a austeridade é necessária,
sim, mas pouco. Ao contrário
daquilo que o BE e o PCP andam a
dizer desde o tempo do Sócrates, se
calhar a coisa apenas lá vai com austeridade,
mas pouca. Quanto ao PS,
o seu líder tem falado muito. Tem falado
muito bem. Mas ainda não falou
nada que jeito tenha. Vertamos então
a “austeridade” já descascada para o
tacho onde repousa o “triunfo” nas
eleições. Cada qual pode mexer o refugado
da forma que mais agrado
lhe causar. E o que temos no final
da fritura? Um cardápio de enganos
e uma profunda derrota da democracia
portuguesa, prontinhos a servir
nos pratos sujos do logro político.
Então, siga o bailo para diante…

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