segunda-feira, 20 de março de 2017

Diário do Alentejo edição nº 1821

Editorial
Apenas
primavera
Paulo Barriga

No início do século XX,
o escritor britânico HG
Wells imaginou um folhetim
em cujo enredo o planeta
Terra estava a ser invadido por seres
inteligentes provenientes de
Marte. Dotadas de poderes excecionais,
as criaturas extraterrestres
não apenas se alimentavam
da raça humana, como tinham armas
poderosas capazes de a dizimar
massivamente. À sua estrambólica
construção chamou Wells A
Guerra dos Mundos, uma narrativa
visionária que mais tarde haveria
de ser reutilizada em abundância
na rádio e, em especial,
no cinema fantástico. Na passada
sexta-feira esteve em Castro Verde
o ministro do Ambiente para
apresentar uma estratégia nacional
para a educação ambiental. E
não foi por impulso do acaso que
João Pedro Matos Fernandes escolheu
aquela vila para propagandear
uma nova política de promoção
da literacia dos portugueses
em matérias ligadas ao ambiente e
à conservação da natureza. É que
em Castro Verde, para além da
batalha fundadora da nossa nação,
também ocorreu há alguns
anos a esta parte uma duríssima
contenda entre a preservação de
um habitat bastante sensível e importantíssimo
para a preservação
de espécies estepárias mundialmente
ameaçadas, como a
abetarda, o peneireiro-das-torres
ou o sisão e o avanço da cultura
da floresta de eucalipto, patrocinada
pelas grandes indústrias de
celulose. Tal como no romance de
HG Wells, também o mundo rural
antigo que se pratica na zona
do chamado Campo Branco esteve
sob ameaça de organismos
estranhos capazes de secar tudo
o que reivindicasse persistir em
seu redor. E também nesta guerra
entre dois mundos, acabou o homem,
não sem grande resistência,
por sair vencedor. Em maio próximo,
vai a Unesco pronunciar-se
sobre as virtudes que este triunfo
do bom senso sobre a avidez representou
e ainda representa não
apenas a nível local, como inclusivamente
a nível planetário. O reconhecimento
internacional da
cultura extensiva do trigo e do
pastoreio nas planícies de Castro
Verde, com absoluto respeito pela
sustentabilidade do território e da
biodiversidade, como Reserva da
Biosfera, é qualquer coisa de inspirador
num tempo em que a agricultura
intensiva e industrial faz
alastrar velozmente a sua pegada.
Foi por esta guerra que o ministro
quis vir a Castro Verde falar de
estratégias ambientais para o futuro.
Foi por este mundo que põe
o homem no centro da natureza
que HG Wells agitou os fantasmas
da Humanidade no passado.

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